quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O Estilo Tardio

On Late Style - trata-se de um livro postumo de Edward Said e retoma algumas idéias de Theodor Adorno para analisar o momento na obra de artistas como Beethoven, Jean Genet e Thomas Mann, entre outros, quando a proximidade (ou a consciência mais aguda) da morte permitiria abandonar as convenções do seu tempo para criar uma arte dificil, radical e irregular. A idade avançada não como acomodação ou pacificação, mas como radicalização do irreconciliável.
" O estilo tardio é o que acontece quando a arte não abdica dos seus direitos em favor da realidade" escreve Said. E cita Adorno: "Na história da arte as obras tardias são as catastrofes".
"Tardio" é o que chega por ultimo, mas tambem o avançado e o mais recente. Pelos dois pontos de vista, o sentido é de extemporaneidade, em descompasso com o seu tempo, em desacordo com o presente.
Assim os últimos trabalhos de Beethoven, à época obscuros e irreconciliáveis, na verdade anunciavam a modernidade na música.
"O estado tardio é um tipo de exilio auto-imposto em relação ao que é geralmente aceitável. Ser tardio significaria, portanto, chegar atrazado para (e recusar) as recompensas que lhe são oferecidas por sua adequação à sociedade, o que inclui ser lido e facilmente compreendido por um grande número de pessoas".
Adorno é precisamente uma figura tardia, porque muito da sua obra militava ferozmente contra o seu próprio tempo.
E nisso sobressai a exaltação do artista e do indivíduo que, aquem ou alem do presente, resiste às identidades que lhe são impostas pelos que o cercam.
Tenho a impressão que é este sentimento que tiraniza e ao mesmo tempo consola àqueles, como eu, que já ultrapassaram a barreira dos sessenta anos de vida.
Nem de longe pensar em se ombrear com Adorno ou com os artistas consagrados citados acima.
Simplesmente entender que temos sim dentro de nós esse "estilo tardio" a configurar ensinamentos obtidos por toda uma vida. Hoje estas qualidades não são reconhecidas, e profissional que ultrapassou determinada idade é, via de regra, excluido.
Mas continuo acreditando que posso ser útil de alguma forma, e para tanto imaginei fazer desse blog algo mais que um simples passatempo ou um "jogar conversa fora" inconsequente, sobretudo quando esse país atravessa essa nova e maravilhosa fase de transformação.
Seria covardia ou um exercício de "tiradabundismo" não próprio para quem durante a vida sempre pregou a ousadia e a criatividade.
Portanto pretendo daqui para a frente exercer o meu "estilo tardio" tratando de assuntos relativos à minha experiência profissional.
Fui, e ainda sou um profissional da área vendas/marketing.
Trabalhei junto a vários mercados, mas é evidente que com alguns deles aprendi mais e, por que não dizer, me influenciaram mais fortemente.
Portanto entendi que era hora de especializar esse blog e a partir de agora vamos tratar de primeiro aprender, fazer uma reciclagem, assimilar novos conceitos e depois tratar de contribuir agindo como um veículo dos anseios dos vários atores que compõem esse vasto e generoso MERCADO DE MATERIAL DE CONSTRUÇÃO!!!!!!!!!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Consultoria de Recursos Humanos-Head Hunters

Continua...

Seria conveniente admitir que estas empresas, na verdade, não fazem uma consultoria, pois se assim o fizessem, isto implicaria em um trabalho mais detalhado e mais próximo do cliente, absorvendo de fato todos os indicativos da cultura da empresa e sobretudo o que isso significa, para formar de fato e com precisão o perfil do profissional a ser indicado.
Ao contrário e de maneira passiva, aceitam como válida as qualificações e requisitos(perfil) impostos pelo cliente.
È evidente que não se pode generalizar. Existem empresas nesse setor da mais alta qualidade e que de fato dignificam o trabalho que fazem.
Mas infelizmente a grande maioria transigem e algumas vezes compactuam com ambições veladas e não confessadas de quem os contrata, procurando identificar um profissional "esperto", "vivo", ou seja, que traga vantagens para as empresas (bancos inclisive), utilizando o seu potencial criativo, digamos enganador.
Que atue no limite da irresponsabilidade ou, é triste dize-lo, transigindo com a ética, usando métodos aceitos, mas pouco recomendáveis - isso entende-se lendo-se as entrelinhas.
Na outra mão exige e faz questão absoluta que esse profissional seja extremamente honesto com ele. È dificil de entender.
De uma certa forma está ligado tambem a essa nova geração de executivos (com ênfase para CEOs) que apareceu na onda da globalização. Esse novo tipo de executivo opera com kits de apresentação, curriculos vitaminados e maquiados, ligados com publicitários que tem a função de lhes levantar a bola na midia, para mais na frente colher verbas de propaganda. Fortes links com promotores de eventos que lhes levantam o nome, na mesma linha de uma modelo, um jogador de futebol ou um cantor.
Deixando essa reflexões de lado, vamos espairecer um pouco e abordar uma piada que se contava quando ainda tínhamos a figura do "Gerubal Pascoal chefe do pessoal", anterior ao advento do Departamento de RH. Conheci um que de tão discreto e cauteloso, ao preparar a folha de pagamento, protegia-a e a virava ao contrário sempre que atendia a um chamado telefônico.
Alguem já disse e é verdade - a inteligência é uma coisa maravilhosa. Está sempre conosco desde a hora que acordamos, e só se afasta de nós quando chegamos ao nosso escritório.
Mas vamos à piada.
Conta-se que determinada empresa tinha como estratégia contratar seus profissionais obedecendo a quatro premissas básicas e qualificadas da seguinte maneira:
O burro ativo - o burro preguiçoso - o inteligente ativo - o inteligente preguiçoso.
O burro preguiçoso ela contratava, mesmo sendo burro... produzia pouco.
O inteligente preguiçoso ela tambem contratava - era preguiçoso mas as vezes tinha um "insight".
O inteligente ativo, esse era imediatamente contratado, por razões óbvias.
O que de forma alguma era aceito, e ao contrário, execrado era o burro ativo, pois esse, alem de burro, era extremamente ativo, portanto produtor de asneiras e tolices em série.
Infelizmente, hoje assistimos o triste espetáculo da valorização do binômio idiota?burro ativo, que se alastra do campo corporativo para atingir o governo.

Conceitos sobre o ato de contratar

O capitalismo de hoje, ao reduzir o número de trabalhadores, reduz tambem o de consumidores, embora eleve a renda daqueles que continuam trabalhando.
Ecos perversos da imposição de métodos neoliberais que desnorteou e confundiu a missão precípua de uma economia sadia - produzir bens e ativos necessários para fortalecer e lastrear a enorme quantidade de dólares acumulados irresponsavelmente pelo operadores do mercado financeiro.
Vê-se, com espanto, a diminuição quase total de oportunidades de trabalho àqueles que percorreram o mesmo caminho da chamada classe média, ou seja, aquela em vias de extermínio.
Relembramos que esses profissionais, oriundos daquela classe, se esforçavam para obter o sonhado diploma universitário.
Com ele debaixo do braço estavam seguros que, no devido tempo, conseguiriam seu espaço e uma colocação para exercer a sua profissão.
O que é visível atualmente é a constatação que não basta ter simplesmente um diploma
universitário. È necessário somar a ele o mestrado, o doutorado, a pos-graduação, o PHD e outros, na tentativa de afirmar, através do estudo, o seu potencial e o seu individualismo.
Engano de visão, pois a este profissional, via de regra, falta a experiência, requisito fundamental quando se pensa no desenvolvimento dos problemas corporativos
Acresce-se a isso, o agravante da exigência, um tanto contraditória mas imprescindível dos limites da idade. Tem que ser jovem.
Forma-se a equação perversa - jovem, alta graduação, experiência comprovada.
Isso sem contar, na outra ponta, o alto custo de um posto de trabalho nessa nossa sociedade tecnológica.
Trabalhador do conhecimento requer investimentos em aparato tecnológico capaz de faze-lo alcançar alto nível de produtividade.
È necessário um crescimento exponencial de capital fixo, para em consequência, buscar a excelência em produção e daí contratar trabalhadores de alta qualificação.
Dentro desse quadro é natural se constatar, com tristeza, o afloramento de processos de seleção cada vez mais apurados na intensificação de uma deprimente e selvagem competição.
Torna-se uma virtude aquele que se mostra mais agressivo em se identificar com o sucesso a qualquer custo, passando como um trator por cima de valores e/ou princípios que enalteçam o respeito, a solidariedade e a decência.
Jovens se degladiando em processos cretinos de seleção televisivo, mostrando abertamente e com surpreendente orgulho seus "dons" mais obscuros, da valorização a todo custo, do próprio ego.
Em contrapartida vê-se, com pesar, a formação de uma verdadeira legião de excluídos.
Devido a escassez de vagas e a consequente necessidade da busca de profissionais "especiais", concentra-se hoje nas consultorias de Recursos Humanos (Head Hunters), esse trabalho de prospecção e seleção.

Continua...