sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Trabalho/Capital

Talvez utópico, mas extremamente pertinente se pensar em novo tipo de relacionamento envolvendo a atual forma de remuneração. È necessário ultrapassar o caráter puramente convencional e ultrapassado do termo "emprego formal".
A nova noção do trabalho, não mais aquele que conhecemos, ou seja, o aluguel parcial da capacidade e do esforço de cada profissional ao capital, mas a remuneração do tempo integral - abrangendo não só as 8 horas regulamentares, mas o total de horas que o indivíduo se empenhou em buscar conhecimentos e informações, adquirindo portanto, mais cultura. Esse processo sempre envolve pesquisa, leitura, e principalmente exige convívio e absorção de sabedoria encontrados nas coisas simples, no convívio humano, no reflitir e aprender com a experimentação do dia a dia, com a adversidade, fortalecendo assim o seu caráter e a sua autonomia.
Enfim, um generoso mosaico de situações e experiências que enobrecem a sua trajetória.
Isso tudo tem um preço que não está sendo pago.
Contribuindo para esta discusão citamos o autor Andre Gorz que sintetizou esses conceitos chamando-os de "O Imaterial", entre outras coisas.
Digo entre coisas coisas pois em seu livro "O Imaterial e Misérias do Presente, Riqueza do Possível", ele comenta sobre capitalismo pós-industrial e o esgotamento do potencial revolucionário do operariado. Fala tambem do cooperativismo.
Voltando ao tema, comenta sobre a "rearticulação da relação entre valor, capital e saber, a partir do momento em que o valor não for mais vinculado à posse dos meios de produção, mas ao saber "imaterial", que só pode ser sintetizado por quem tem tempo livre para aprimorar-se em esferas ampliadas de interação social".
Gorz insiste que a centralidade desse "imaterial" é próprio ao que ele chama de "capital cognitivo" e será a senha para a crise do capitalismo. Pois a centralidade do "imaterial" traz a possibilidade da criação de uma "dissidência digital" emancipatória.
È possivel pensar então que:
O trabalho assalariado está em regressão.
O capitalismo sofre de uma crise de super acumulação.
A recusa de homens e mulheres em serem tratados como mercadorias - em vender seu trabalho e seu tempo.
Renda contínua para um trabalho descontínuo.
A produtividade da força de trabalho pós fordista não depende mais da celeridade com a qual sujeitos executam tarefas prescritas. Ela depende de um conjunto de faculdades "cognitivas", de saberes intuitivos, da capacidade de julgar e de reagir ao imprevisto: coisas que não se ensinam, mas que evidenciam o desabrochar das pessoas.
Pagar apenas o tempo do trabalho imediato é injusto. O capital pretende apropriar-se gratuitamente das capacidades e dos saberes que as pessoas desenvolvem fora do seu trabalho.
Um capitalismo que pretende dominar as pessoas limitando suas capacidades às exigências mais imediatas do processo produtivo é incapaz de tirar proveito da revolução aberta pela micro-eletrônica.
Hoje, ao contrário, convivemos com o aumento do processo da terceirização, expressão maior do distanciamento capital/emprego.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Carta protesto

Recordações - mexendo em meus papéis encontrei uma carta escrita, mas infelismente não enviada a uma empresa aqui de São Paulo.
Estava trabalhando, sob contrato, em Santa Catarina, e recebi, através de head hunter, uma oferta de trabalho. Tratava-se de empresa bastante conceituada com atuação no campo onde eu tinha grande familiaridade.
Antes um parenteses - estamos falando do início da década de 90, onde a inflação mensal beirava a 80% ao mês. Inacreditável porem verdadeiro. Era época do tambem inacreditável "gatilho salarial". Sim, é verdade, sou um veterano profissional, na estrada a muito tempo e com muitas "estórias" para contar.
Pois bem, marcamos a data e eu compareci para a entrevista que era com o diretor de RH e com o presidente e/ou proprietário da empresa. Portanto uma empresa familiar prato cheio para análises e considerações de inúmeros consultores que se arvoram conhecedores de seus descaminhos. Na época eu tambem pensava de forma preconceituosa sobre esse assunto. Hoje, mais maduro e porque não dizer mais velho e supostamente mais sábio, tenho outra visão, bastante mais favorável à estas instituições - mas isso fica para uma outra vez.
Estavam necessitando de um Diretor Comercial.
Só para esclarecer quando da viagem, eu comprei a passagem ida e volta Criciúma/São Paulo, e para deixar bem claro que não fui aceito e pior ainda não me deram explicações.
Aí vai a Carta:
Prezados sehores,
Acabei de receber a restituição referente ao valor do bilhete Rio-Sul, pelo qual viajei a São Paulo para participar de entrevista a chamado de sua empresa.
São precisamente NCZ$ 1.153,00(Hum mil, cento e cinquenta e três cruzeiros novos), valor esse que só me permitiria adquirir um bilhete para fazer o mesmo percurso se eu tivesse a possibilidade de realizar o extraordinário feito de viajar no tempo, regredindo ao distante mês de Dezembro de 1989, ou seja teria adquirido poderes de verdadeiro Super-Homem, o que, convenhamos, se deles desfrutasse não estaria interessado em participar de qualquer processo de seleção.
Mas pelo menos esse retorno(difasado é verdade) eu obtive.
Pior foi aquele que não houve.
Aquele retorno que dignifica o profissional, que o alenta para a próxima batalha e que ele naturalmente espera de qualquer eventual empregador com um mínimo de respeito para com o ser humano.
Já sabia que meu nome havia sido recusado.
Não é necessário ser nenhum gênio para entender o perfil que o presidente dessa empresa enaltece, ou seja, perfil de tecnocrata com formação acadêmica que ostente MBA, PHD, preferencialmente em finanças, o que, na verdade, reflete seu caráter elitista e preconceituoso.
O que me entristece é saber que o meu nome não mereceu siquer a atenção para uma explicação, até porque, pensava estar tratando com profissionais que saberiam o que isso representa.
Fuck you, men.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Gastronomia

Somente para relembrar o que foi dito quando do início desse blog. Lá no começo a proposta era mesclar assuntos ligados a análises de comportamentos empresariais/corporativos com assuntos da Gastronomia, entendendo que embora distantes se aproximam e se tocam quando analisados sob a ótica da criatividade. Alem disso a Gastronomia pode tambem, de forma generosa, se inserir e, portanto, contribuir, quando agregada a outros assuntos como por exemplo -etiqueta, identidade, religião, modismo, negociação, sociologia, etc.

SABEDORIA
Aprender com a sabedoria da culinária.
Ela lida permanentemente com as relações entre as pessoas, com a ética e com a convivência com a Natureza, alem de propor a concórdia e a comunhão.
Comunhão, palavra hoje tão esquecida e tida como poética demais, piegas demais, num mundo tão degradado pela competição a qualquer custo que despreza a emõção, a intuição, e o lado não racional da vida.

SABEDORIA
Um jantar lubrifica e facilita o acordo, permite o convívio civilizado, proporcionando o diálogo e a convivência pacífica.
Entender que hoje a cozinha voltou a ser o centro de reunião das famílias e dos amigos.
È ali, em torno dos preparativos de uma refeição que assuntos os mais diversos são discutidos e esclarecidos.
As refeições tambem se nutrem de um ambiente favorável onde as energias positivas e fluídos amorosos afloram, harmonizando as reuniões.

FILOSOFIA de VIDA
Entender a Gastronomia não só como auxiliar na revitalização da saúde, muito menos como satisfação do paladar.
Mas como filosofia.
Com ela aprendemos a relacionar valores com os quais vincamos procedimentos, indiossincrasias, simpatias e discordâncias gratuitas, as quais recebem lenitivos providenciais quando discutidos e esclarecidos em torno de uma refeição.

ANTROPOFAGIA
Antropofagia analisada sob o prisma tão querido de Osvald de Andrade - Antropofagia cultural.
Ela se evidenciou positivamente quando o Brasil, literalmente engoliu e assimilou culturas distintas trazidas pelos emigrantes, culinária inclusive.
Foi um processo notável de amálgama que resultou em um Brasil dotado de particularidades únicas que se bem usadas nos farão diferentes e portanto mais criativo no rnfrentamento das realidades do mundo de hoje.
Essa comilança nos fêz bem!!

O HOMEM CORDIAL
Sem apologias e sem qualquer ilação dignificante atrás dessa frase tão simpática, a princípio, mas tambem enganosa - homem cordial.
A vida em sociedade para o brasileiro, "é de certo modo uma verdadeira libertação do pavor que ele sente de viver consigo mesmo". "Ele é antes um viver nos outros".
Essa foi a afirmação de Sergio Buarque de Holanda ao qualificar o comportamento do brasileiro comum.
Nada melhor do que "viver nos outros" do que a confraternização culinária, onde as pessoas se congregam, se ajudam e principalmente fogem da solidão.

SIGNIFICADOS CURIOSOS
Algumas observações inteligentes e ao mesmo tempo oportunas para analisar atitudes, recebem às vezes contribuição essencial da Gastronomia:
-- prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguem.
-- as leis e as salsichas, é melhor não saber como são feitas.
-- vingança é um prato que se come frio.
-- quem tem pressa come crú.
-- um apaziguador é um homem que alimenta o crocodilo na esperança de ser comido por último.
São só alguns exemplos.
Outras merecem atenção especial por serem mais "saborosas", como essa:
Existem dois tipos de pessoas - as que participam e as que se comprometem.
Paulo Gaudêncio conseguiu identificar e possivelmente conceituar essa dicotomia ao assemelhar esta postura com o "bife a cavalo".
Tem tudo a ver, pois a galinha participa ao doar os ovos, mas o boi se compromete(e como) ao doar a sua carne.
Somos realmente compromissados com a realidade ou simplesmente participamos resignados e omissos aos ditames e aos salamaleques fúteis da sociedade?

A ORIENTAÇÃO FEMININA
A mulher é a principal responsável pela preservação da cultura gastronômica, repassando tradições e/ou rituais culinários a seus descendentes, o que propicia a preservação da identidade, sem a qual, qualquer país perde sua autonomia, e sua altivez.
Hoje, mais liberta e segura de suas conquistas, sabe inconscientemente que é fundamental a sua importância ao participar, não mais como coadjuvante, mas como protagonista, das decisões que afetam a humanidade.
Orientada pela sua sensibilidade e intuição, observa entre perplexa e orgulhosa que é responsável pela dádiva máxima da nutrição - alimentar a sua cria.
Dentro da gastronomia essa é a mais sublime forma de compartilhar uma refeição.

GÍRIA
Gíria é a voz do povo. Sempre espirituosa, cheia de malícia e às vezes com significados surpreendentes ligados à gastronomia.
Exemplos como:
Vamos comer um rango.
Filar a boia.
Boi ralado(picadinho).
Peito de perú na chapa.
Bom pra chuchu.
Cocada quebra queijo.
São expressões corriqueiras, próprias do homem comum.
Talvez a comida fique mais saborosa ao receber nomes tão significativos, e próprias da sabedoria popular.
São longínquas as origens da gíria. Há quem diga que surgiu da similitude fonética entre a palavra francesa argot(gíria) e artgoth(arte dos godos) - arte gótica.
Os argotiers da idade média, filhos espirituais dos Argonautas que escreviam nas pedras as suas mensangens herméticas. Ninguém a compreendia, só o homem superior- o homem alerta.
Quantos mistérios ainda não foram descobertos nas pedras das catedrais góticas.
Talvez até algumas receitas secretas da longevidade e outras afrodisíacas e pertubadoras.

O RISCO
Chegou o cardápio.
O que comer?
Fica-se paralisado pela análise.
Entre a escolha, diante de opções tão atraentes, as decisões não surgem facilmente.
O risco de experimentar comidas novas, surpreendentes ou até desconhecidas, sui generis, de sabor exótico.
Esta decisão, digamos "corajosa", cabe aos de espírito de vanguarda, determinados e seguros de suas preferências - digamos aquele que comanda a mesa e se responsabiliza pelas suas indicações.
Uma ilação perigosa, porém necessária, seria aquilatar as pessoas pelo seu comportamento em torno de uma refeição.

O ACASO
O acaso, o aleatório, o inesperado.
Surpreendente manisfestação instantânea de esclarecimento em meio à turbulência, à aflição.
Insigth poderoso e esclarecedor.
Podemos encontra-lo na cozinha, quando ao preparar uma refeição troca-se ingredientes, inverte-se procedimentos, inclue-se temperos obedecendo intuição repentina.
Onde profissionais "alertas" captam situações inusitadas, ocasionais e transformam receitas medíocres em pratos referenciais.
Humildade para perceber estes momentos no nosso cotidiano, assimila-los, aceita-los e entender sua mensagem. Multiplica-los utilizando a fragmentação de idéias e fazendo associações.
Otimizar o uso da nossa consciência, diminuindo e relativisando a crença tirânica na lógica pura.
Como disse Jung dar valor às "coincidências significativas".
Refletir sobre:
--"Como sabemos, o diabo costuma estar nos detalhes".
--"O inevitável não acontece nunca, o inesperado sempre".
Ou seguir o que diz o Eclesiastes:
"Eu vi ainda debaixo do sol, que a corrida não é para os mais ligeiros, nem a batalha para os mais sábios, nem as riquesas para os mais inteligentes, mas tude depende do tempo e do acaso".

NEGOCIAÇÃO
A gastronomia exerce a séculos a poderosa magia de aproximar as pessoas fazendo-as partícipes de uma refeição conjunta onde prevalece a harmonia.
Portanto ela colabora criando ambiente propício às negociações.
Nada mais comum do que ouvir empresários e/ou executivos dizendo: "vou a um jantar de negócios".
A negociação é uma relação interpessoal. Nenhuma ação de entendimento vinga sem o que os romanos chamavam de "affectio societatis" - a afeição entre cidadãos.
Para isso é interessante tambem pensar que não entramos em uma negociação para obter vantagens, e sim, para descobrir o que nos possa ser mais vantajoso na vantagem comum.
Ela é portanto um processo, no qual os aspectos comportamentais, muitas vezes, sobrepõem-se aos aspectos técnicos do que se está negociando.
Muitas vezes sentimo-nos enfraquecidos, sem argumentos, carregando erros que desgataram um relacionamento.
Porem, isso tudo fica esquecido se nos postarmos de forma sincera, digna, altiva, demonstrando o enorme desejo de procurar a reconciliação.

ESTATÍSTICA-MODELOS ECONOMÉTRICOS
A culinária não existiria sem os utencílios domésticos, sempre á mão, colaborando no encaminhamento de receitas mais elaboradas.
Duas estrelas da cozinha são, de fato, o forno e o freezer.
Acreditem, mas eles tambem foram utilizados como parâmetro, quando o homem sensível (talvez um cozinheiro), despido da arrogância de raciocinar matematicamente, ou dando importância relativa às estatísticas ousou pensar: "alguns dados tem o mesmo valor estatístico da temperatura média de um corpo, cuja cabeça está no freezer e as nádegas no forno".
Esquecer um pouco a verdadeira tirania dos economistas que hoje opinam sobre tudo, desde lingerie até a influência do mamão na vida conjugal.
Cada um tem a sua própria verdade, dependendo da escola, tendência ou interesse.
Mas sempre nos brindam com formidáveis "batatadas" ou eruditas "abobrinhas".
Quem sabe não seria mais conveniente raciocinar um pouco mais com a emoção e com a intuição.
O melhor seria seguir o que diz Fernando Pedreira:
"Talvez o que nos esteja faltando hoje, não só para o Brasil, mas no mundo, seja uma voz suficientemente forte, um projeto, uma utopia, que não seja simplesmente essa de produzir mais, ganhar mais, consumir mais e melhor..."

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Paradigma

Essa palavra está cada vez mais em voga. È utilizada com frequência quando queremos vincar o conceito de mudanças radicais visualizando o novo, o inesperado. Tem uma conatação de ruptura com o convencional - a quebra e a reformulação de hábitos que se enraizaram embrutecendo a inovação.
Mas é preciso conhecer um pouco mais sobre essa palavra para podermos, enfim, utiliza-la com mais propriedade e, porque não dizer com mais autoridade.

Abaixo segue uma definição de Paradigma retirado do Le Monde Diplomatique.
Artigo-"Por novos paradigmas de produção e consumo".
Autores - Leandro Pereira Morais e Adriano Borges Ferreira Costa.
"Paradigma é uma palavra muito utilizada. Representa em seu uso corriqueiro um "modelo", um "padrão", até mesmo um modo de se compreender o mundo e uma sociedade. Apesar de ter sido utilizada por Platão e outros autores ao longo da história, a palavra paradigma foi disseminada e popularizada recentemente pelo físico Thomas Kuhn, em seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas, publicado em 1962. Trouxe à tona o uso do conceito de paradigma para formular sua tese sobre a evolução não linear e contínua da ciência. Afirmou que não se trata de um processo de acumulação de conhecimento, mas que o progresso científico se dá por meio de saltos e quebras e, portanto, de mudanças de paradigmas. A prática científica pressupõe uma pré-compreensão do real que determinará o objeto, o método e o tipo de investigações. A verdade de cada teoria funciona apenas dentro do seu paradigma. Nesse sentido, os cientistas avançam dentro dos problemas que o paradigma escolhido permite detectar, de forma que a mudança de paradigma traga novos e diferentes tipos de questões como prioritárias e legítimas".

Portanto ao conhecer melhor esse termo, é necessário rever um pouco nossos próprios conceitos e, muito importante, relembrar sempre quando eles disseram..."não se trata de um processo de acumulação de conhecimento, mas que o processo científico se dá por meio de saltos e quebras"...
Portanto esse momento que estamos vivendo será abalado, sacudido por saltos e quebras na outora tranquila observação linear dos nossos problemas.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Empresas - pensar o novo

Anterior a essa nossa reslidade da Globalização - fase ainda nebulosa e desconhecida - e portanto, anterior a uma de suas consequências, a terceirização, existia uma verdadeira aproximação afetiva entre os funcionários e as empresas.
Ela proporcionava o encontro, a amizade e um certo compromisso de fidelidade a orientar a administração das responsabilidades.
Seus profissionais, via de regra, eram motivados a com ela conviver por muitos anos, obtendo, assim(dependendo da capacidade de cada um) a possibilidade de um plano de carreira que o estimulava a progredir aumentando seu comprometimento.
Havia um relacionamento estreito, quase visceral, chegando muitas vezes a agregar ao funcionário um novo sobrenome - o da empresa:
--Está aí o Fernando da Carborundum.
Estranho tambem a formação de hábitos relacionados com os próprios hábitos das empresas.
Conheci um profissional que após trabalhar por longos anos numa única organização, quando dela se desligou, continuou, ao sair de casa pela manhã, a fazer o seu velho trajeto até a antiga empresa, e lá estacionar.
Não, não sou um saudosista. Apenas relembro que esta afinidade poderia, nas devidas proporções, ser readaptada para os dias de hoje, tão brutalizados pela competição ferrenha e sem parâmetros, sem ética, a nortear a ascenção na carreira. Esta postura, digamos, fraterna, não impediria que ambos, profissional e empresa, cada um a seu modo, buscassem se reciclar e aceitar a evolução das práticas corporativas.
Ter consciência do valor do comprometimento, da parceria, da cumplicidade intrínsica formada na honestidade dos relacionamentos.
As organizações, como as pessoas, são criaturas de hábitos.
A maneira como fazemos as coisas por aqui.
Os hábitos, via de regra, causam relaxamento, pois estão sempre disponíveis e impedem a formulação de um novo conceito.
È imperativo romper com os hábitos, mudar, fazer a auto-crítica revisionista e sacudir o conformismo.
No capitalismo de hoje é essencial para a sobrevivência criar novas práticas de organização empresarial, novas tecnologias e conhecimentos.
O interesse das empresas na construção de uma sociedade civil forte, democrática, digna e justa nem sempre é óbvia. Mas é interesse das empresas contar com uma base forte de consumidores, com uma economia estável e com uma força de trabalho educada e bem remunerada.
Portanto urge deixar essa hipocresia de lado e assumir as suas responsabilidades.
Assumir a inclusão social de forma clara, não existe desenvolvimento sem inclusão social,esquecendo o seu valor mediático(publicitário), o qual não agrega nada por ser efêmero e, portanto, ao contário do que se pensa, oferecendo retorno duvidoso. A fragilidade de suas propostas a enaltecer marcas que, por mais que sejam conhecidas, podem cair no ostracismo via mediocridade e falta de sensibilidade gerando desconfiança.
Arregaçar as mangas e formular plano de responsabilidade social consistente e longevo, ajudando a enfrentar a espessura da hora.
Procurar, com isso, um relacionamento mais estreito com a sociedade, tornando-a cúmplice de iniciativas realmente identificadas como honestas a vincar uma parceria que se propõe inovadora.
Um sistema econômico é avaliado, acima de tudo, por sua capacidade de gerar bens e serviços para a coletividade humana.
Em virtude das grandes mudanças que se advinham, é possível afirmar que o mercado em geral defonta-se num duelo inevitável com mudanças de direcionamento operacionais bastante sérios, pois terá que enfrentar um adversário poderoso. Poderoso por ser ainda desconhecido, que se apresenta nebuloso, etéreo, virtual.
Para conhece-lo, ou tentar levantar um pouco a névoa que o envolve, é necessário obter o máximo possível de informação e formular estratégias não convencionais, mas ao contrário, pensando de forma não ortodoxa, com criatividade, ousadia, intuição, sensibilidade, usando o lado não racional da vida.
O mundo escravo de análises que procuram ser exatas, em um cenário subjetivo e hoje profundamente dependente do comportamento e das idiossincrasias do ser humano. Este sim, o vetor fundamental de mudanças.
Em seu último livro, Salmon Rushdie comenta: "Que ninguém deve procurar as culpas fora de si mesmo, de sua cultura, de sua tradição - os barbáros estão dentro de nós, cada um é o seu próprio Cavalo de Tróia".
A maioria das empresas despreza estes ensinamentos e até os ridicularizam, qualificando-os de poéticos e irrelevantes.
Mais vale a sua cultura racional de resultados - a escravidão econométrica.
Seguem a política de "manada", ou seja, sem riscos, obedecendo o determinismo dos gurus economistas e/ou financeiros.
Algumas convivem com a síndrome do "Dinossauro", causada pelo virus da imbecilidade organizacional adquirida.
Outras seus executivos agem histericamente. Correm freneticamente e de forma estéril em qualquer direção - com essa sofreguidão, apostam sempre no lado errado.
Ao contrário, outras procuram ser, cuidadosas(lentas) nas sua decisões. São doutoradas nos seus problemas, mas não conseguem agir.
Seus executivos foram escolhidos obecendo a cartilha do bem contratar da atualidade, isto é, todos são mestres, doutores, PhD em administração ou finanças e, portanto, seus planos estratégicos são consubstanciados em verdades teóricas, quase sempre inúteis.
Estratégias empresariais eficazes serão articuladas por aqueles que vêem informação onde outros vêem dados ou estatísticas e pelos que são capazes de reagir rapidamente a surpresas, isto é, a uma nova informação.
Tudo isto está relacionado com o "oportunismo informado".
Talvez raciocinar sublimando as inovações e produzindo uma linguagem não linear, que trabalha muito o raciocínio e a curiosidade. Procurar utilizar a fragmentação de idéias a exigir que o interessado faça associações.

"Eu vi, ainda debaixo do sol, que a corrida não é para os mais ligeiros, nem a batalha para os mais fortes, nem o pão para os mais sábios, nem as riquezas para os mais inteligentes, mas tudo depende do tempo e do acaso". (Eclisiastes)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O profissional de hoje

O que estamos vivendo hoje?
Será que após a ruptura do neoliberalismo nada mudou?
Será que essa crise pós-neoliberalismo já acabou? Ou ainda o excesso de dólares sem o seu respectivo lastro em ativos, vai trazer reviravoltas fundamentais?
Será que a liderança dos EUA como potencia única vai entrar em colapso?
A conscientização que o poderio econômico(comtudo que ele representa) vai ter que rever seus conceitos milenares e se adaptar a um novo pensar, um novo mundo interativo e participativo.
A Globalização, saindo da industrialização com sua organização vertical e das identificações-pai, professor,pátria- para a era da informação com sua organização horizontal, feminina, privilegiando a emoção a intuição a generosidade.
Como então interpretar à luz de tantas novas abordagens, o problema do profissional de hoje, atuando em suas respectivas áreas e nelas exercendo primeiro, a tirania da sua própria personalidade, com o agravante de suas fugas e fraquezas, para se apoiar em filosofias baratas ,
religião ou tambem na tecnologia.
O que representa um acúmulo ou concentração de personalidades díspares exercendo funções de decisão? Eles estariam formando a "cara" da pessoa jurídica?
Aproveitando poderíamos analisar especificamente a área de Marketing.
No meu entender o Marketing de hoje atravessa fase das mais medíocres. Não está sabendo propor alternativas para enfrentar o marasmo atual consubstanciado em um "deja vue" previsível oferecendo propostas decadentes, reacionárias, estagnados em velhas certezas, onde prevalece teorias já ultrapassadas a vincar decisões sem imaginação.