quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Gastronomia

Somente para relembrar o que foi dito quando do início desse blog. Lá no começo a proposta era mesclar assuntos ligados a análises de comportamentos empresariais/corporativos com assuntos da Gastronomia, entendendo que embora distantes se aproximam e se tocam quando analisados sob a ótica da criatividade. Alem disso a Gastronomia pode tambem, de forma generosa, se inserir e, portanto, contribuir, quando agregada a outros assuntos como por exemplo -etiqueta, identidade, religião, modismo, negociação, sociologia, etc.

SABEDORIA
Aprender com a sabedoria da culinária.
Ela lida permanentemente com as relações entre as pessoas, com a ética e com a convivência com a Natureza, alem de propor a concórdia e a comunhão.
Comunhão, palavra hoje tão esquecida e tida como poética demais, piegas demais, num mundo tão degradado pela competição a qualquer custo que despreza a emõção, a intuição, e o lado não racional da vida.

SABEDORIA
Um jantar lubrifica e facilita o acordo, permite o convívio civilizado, proporcionando o diálogo e a convivência pacífica.
Entender que hoje a cozinha voltou a ser o centro de reunião das famílias e dos amigos.
È ali, em torno dos preparativos de uma refeição que assuntos os mais diversos são discutidos e esclarecidos.
As refeições tambem se nutrem de um ambiente favorável onde as energias positivas e fluídos amorosos afloram, harmonizando as reuniões.

FILOSOFIA de VIDA
Entender a Gastronomia não só como auxiliar na revitalização da saúde, muito menos como satisfação do paladar.
Mas como filosofia.
Com ela aprendemos a relacionar valores com os quais vincamos procedimentos, indiossincrasias, simpatias e discordâncias gratuitas, as quais recebem lenitivos providenciais quando discutidos e esclarecidos em torno de uma refeição.

ANTROPOFAGIA
Antropofagia analisada sob o prisma tão querido de Osvald de Andrade - Antropofagia cultural.
Ela se evidenciou positivamente quando o Brasil, literalmente engoliu e assimilou culturas distintas trazidas pelos emigrantes, culinária inclusive.
Foi um processo notável de amálgama que resultou em um Brasil dotado de particularidades únicas que se bem usadas nos farão diferentes e portanto mais criativo no rnfrentamento das realidades do mundo de hoje.
Essa comilança nos fêz bem!!

O HOMEM CORDIAL
Sem apologias e sem qualquer ilação dignificante atrás dessa frase tão simpática, a princípio, mas tambem enganosa - homem cordial.
A vida em sociedade para o brasileiro, "é de certo modo uma verdadeira libertação do pavor que ele sente de viver consigo mesmo". "Ele é antes um viver nos outros".
Essa foi a afirmação de Sergio Buarque de Holanda ao qualificar o comportamento do brasileiro comum.
Nada melhor do que "viver nos outros" do que a confraternização culinária, onde as pessoas se congregam, se ajudam e principalmente fogem da solidão.

SIGNIFICADOS CURIOSOS
Algumas observações inteligentes e ao mesmo tempo oportunas para analisar atitudes, recebem às vezes contribuição essencial da Gastronomia:
-- prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguem.
-- as leis e as salsichas, é melhor não saber como são feitas.
-- vingança é um prato que se come frio.
-- quem tem pressa come crú.
-- um apaziguador é um homem que alimenta o crocodilo na esperança de ser comido por último.
São só alguns exemplos.
Outras merecem atenção especial por serem mais "saborosas", como essa:
Existem dois tipos de pessoas - as que participam e as que se comprometem.
Paulo Gaudêncio conseguiu identificar e possivelmente conceituar essa dicotomia ao assemelhar esta postura com o "bife a cavalo".
Tem tudo a ver, pois a galinha participa ao doar os ovos, mas o boi se compromete(e como) ao doar a sua carne.
Somos realmente compromissados com a realidade ou simplesmente participamos resignados e omissos aos ditames e aos salamaleques fúteis da sociedade?

A ORIENTAÇÃO FEMININA
A mulher é a principal responsável pela preservação da cultura gastronômica, repassando tradições e/ou rituais culinários a seus descendentes, o que propicia a preservação da identidade, sem a qual, qualquer país perde sua autonomia, e sua altivez.
Hoje, mais liberta e segura de suas conquistas, sabe inconscientemente que é fundamental a sua importância ao participar, não mais como coadjuvante, mas como protagonista, das decisões que afetam a humanidade.
Orientada pela sua sensibilidade e intuição, observa entre perplexa e orgulhosa que é responsável pela dádiva máxima da nutrição - alimentar a sua cria.
Dentro da gastronomia essa é a mais sublime forma de compartilhar uma refeição.

GÍRIA
Gíria é a voz do povo. Sempre espirituosa, cheia de malícia e às vezes com significados surpreendentes ligados à gastronomia.
Exemplos como:
Vamos comer um rango.
Filar a boia.
Boi ralado(picadinho).
Peito de perú na chapa.
Bom pra chuchu.
Cocada quebra queijo.
São expressões corriqueiras, próprias do homem comum.
Talvez a comida fique mais saborosa ao receber nomes tão significativos, e próprias da sabedoria popular.
São longínquas as origens da gíria. Há quem diga que surgiu da similitude fonética entre a palavra francesa argot(gíria) e artgoth(arte dos godos) - arte gótica.
Os argotiers da idade média, filhos espirituais dos Argonautas que escreviam nas pedras as suas mensangens herméticas. Ninguém a compreendia, só o homem superior- o homem alerta.
Quantos mistérios ainda não foram descobertos nas pedras das catedrais góticas.
Talvez até algumas receitas secretas da longevidade e outras afrodisíacas e pertubadoras.

O RISCO
Chegou o cardápio.
O que comer?
Fica-se paralisado pela análise.
Entre a escolha, diante de opções tão atraentes, as decisões não surgem facilmente.
O risco de experimentar comidas novas, surpreendentes ou até desconhecidas, sui generis, de sabor exótico.
Esta decisão, digamos "corajosa", cabe aos de espírito de vanguarda, determinados e seguros de suas preferências - digamos aquele que comanda a mesa e se responsabiliza pelas suas indicações.
Uma ilação perigosa, porém necessária, seria aquilatar as pessoas pelo seu comportamento em torno de uma refeição.

O ACASO
O acaso, o aleatório, o inesperado.
Surpreendente manisfestação instantânea de esclarecimento em meio à turbulência, à aflição.
Insigth poderoso e esclarecedor.
Podemos encontra-lo na cozinha, quando ao preparar uma refeição troca-se ingredientes, inverte-se procedimentos, inclue-se temperos obedecendo intuição repentina.
Onde profissionais "alertas" captam situações inusitadas, ocasionais e transformam receitas medíocres em pratos referenciais.
Humildade para perceber estes momentos no nosso cotidiano, assimila-los, aceita-los e entender sua mensagem. Multiplica-los utilizando a fragmentação de idéias e fazendo associações.
Otimizar o uso da nossa consciência, diminuindo e relativisando a crença tirânica na lógica pura.
Como disse Jung dar valor às "coincidências significativas".
Refletir sobre:
--"Como sabemos, o diabo costuma estar nos detalhes".
--"O inevitável não acontece nunca, o inesperado sempre".
Ou seguir o que diz o Eclesiastes:
"Eu vi ainda debaixo do sol, que a corrida não é para os mais ligeiros, nem a batalha para os mais sábios, nem as riquesas para os mais inteligentes, mas tude depende do tempo e do acaso".

NEGOCIAÇÃO
A gastronomia exerce a séculos a poderosa magia de aproximar as pessoas fazendo-as partícipes de uma refeição conjunta onde prevalece a harmonia.
Portanto ela colabora criando ambiente propício às negociações.
Nada mais comum do que ouvir empresários e/ou executivos dizendo: "vou a um jantar de negócios".
A negociação é uma relação interpessoal. Nenhuma ação de entendimento vinga sem o que os romanos chamavam de "affectio societatis" - a afeição entre cidadãos.
Para isso é interessante tambem pensar que não entramos em uma negociação para obter vantagens, e sim, para descobrir o que nos possa ser mais vantajoso na vantagem comum.
Ela é portanto um processo, no qual os aspectos comportamentais, muitas vezes, sobrepõem-se aos aspectos técnicos do que se está negociando.
Muitas vezes sentimo-nos enfraquecidos, sem argumentos, carregando erros que desgataram um relacionamento.
Porem, isso tudo fica esquecido se nos postarmos de forma sincera, digna, altiva, demonstrando o enorme desejo de procurar a reconciliação.

ESTATÍSTICA-MODELOS ECONOMÉTRICOS
A culinária não existiria sem os utencílios domésticos, sempre á mão, colaborando no encaminhamento de receitas mais elaboradas.
Duas estrelas da cozinha são, de fato, o forno e o freezer.
Acreditem, mas eles tambem foram utilizados como parâmetro, quando o homem sensível (talvez um cozinheiro), despido da arrogância de raciocinar matematicamente, ou dando importância relativa às estatísticas ousou pensar: "alguns dados tem o mesmo valor estatístico da temperatura média de um corpo, cuja cabeça está no freezer e as nádegas no forno".
Esquecer um pouco a verdadeira tirania dos economistas que hoje opinam sobre tudo, desde lingerie até a influência do mamão na vida conjugal.
Cada um tem a sua própria verdade, dependendo da escola, tendência ou interesse.
Mas sempre nos brindam com formidáveis "batatadas" ou eruditas "abobrinhas".
Quem sabe não seria mais conveniente raciocinar um pouco mais com a emoção e com a intuição.
O melhor seria seguir o que diz Fernando Pedreira:
"Talvez o que nos esteja faltando hoje, não só para o Brasil, mas no mundo, seja uma voz suficientemente forte, um projeto, uma utopia, que não seja simplesmente essa de produzir mais, ganhar mais, consumir mais e melhor..."

Nenhum comentário:

Postar um comentário