terça-feira, 19 de janeiro de 2016

CAUSOS CORPORATIVOS

O Bem Comum -

Estamos vivendo momentos difíceis e preocupantes. Tomo a liberdade de ser um pouco radical para acrescentar momentos de barbárie (terrorismo) e de absoluta incompreensão social (desigualdade, fome, concentração mórbida de capital) etc.
Para tentar consubstanciar e mesmo decifrar todo esse inconformismo e a imprevisibilidade a vincar os hábitos, os humores da humanidade, como entendessem num átimo a irrelevância de suas atitudes e de suas preferências ambiciosas, via acúmulo de capital em detrimento da busca do bem comum , do respeito ao próximo, da generosidade, do convívio fraterno - voltar a ser humano!
Entendi como válido concretizar toda essa apreensão através da consciência da Melancolia, desde que abruptamente, ela preencheu um sentimento indefinível, ou seja, a humanidade espera, receiosa, ou mesmo apavorada por algo ainda vago, mas preocupante.
A consciência da Melancolia despertou de forma metafórica a conclusão desse enigma e sua decifração, consolidando todas as preocupações ainda indefinidas.
Como ela é etérea, volúvel e não exata, resolvi lhe dar um perfil real, a personificando, comparando-a a olhares distintos, ativando e conectando nosso inconsciente coletivo, acervo confiável de nossos anseios, desejos e ilusões.
Texto, tecido, textil.
Oportuna e sábia analogia, que vem nos auxiliar a entender melhor essas analogias.
Texto, tecido, textil, entrelaçamento de fios, preâmbulo para a formatização do real.
Portanto, aqui especificamente, texto é todo objeto portador de mensagem. Também os sinais em que se inscrevem essas mensagens podem ser os mais variados - os gestos do nosso corpo, as letras do alfabeto, as notas musicais, totens, cidades, filmes, etc.
A esse entrelaçamento de sinais físicos apropriados designamos o elo procurado para reafirmar nossa intenção.
Já a composição de significados é aquilo que a consciência pode capturar a partir dos sinais (semiótica?)
Essa captura é a interpretação que só existe devido aos intérpretes: de pessoas, signos, cidades e/ou filmes - no nosso caso específico, os dois últimos. Elas são manipuladas para relacionar os sinais físicos com um certo código. É preciso decodificar.
Melancolia - ela pode ser traduzida por essa nuvem espessa que paira opressiva e desconcertante, confundindo nossas sentimentos - seria o significante do presságio ainda sem identidade, de algo como tradutora fiel das apreensões humanas ainda ancoradas no indecifrável.
Aqui se pretende exemplificar esta angústia universal, reduzindo-se o olhar, tirando-o do macro e fixando em exemplos mais próximos e significativos.
O pensamento só pode captar esta coisa imaginária porque ela deixa vestígios de sua existência. Entra em contato com vestígios da existência de algo que se quer compreender, saber o que eles significam e estabelecer tramas conceituais e instrumentalizar a reflexão.
Melancolia como tema catalizador desses temas aparentemente díspares, todos centralizados em dois signos: filmes e cidades.
A melancolia das tardes/noites de pequenas cidades  do interior do Brasil.
São histórias particulares mas que espelham um desabrochar de apreensões que teimam em se apresentar em flaxes, mas que nos alertam e desfiguram um sentimento quase poético de desânimo.
Algo que pouco a pouco vai sendo armazenado no inconsciente e que devagar ocupa espaço em nossas  mentes.
A tristeza de um fim de rua, quase sem iluminação - o que virá após o fim da rua? o que se esconde atrás dessa esquina? na imagem dos últimos lampiões, das quebradas que vão dar no desconhecido.
Portanto vamos tentar entender a melancolia analisando, como figura de retórica, seus reflexos quando lembramos fatos que nos tocaram em filmes significativos e personalidade única de algumas cidades.
Istambul -
Do livro de Orhan Pamuk:
Husum a palavra turca para melancolia tem raiz árabe. Husum umbilicalmente ligada ao habitante de Istambul.
Para o sufismo a husum é a angústia espiritual que sentimos pela impossibilidade de nos aproximarmos ainda mais de Alá, por não termos como fazer o bastante por Alá nesse mundo.
Além disso, o que lhe traz sofrimento, é a ausência, e não a presença, de husum.
É a incapacidade de sentir a husum que o leva a senti-la.
Ele sofre por não sofrer o bastante. Para compreender a importância central da husum como conceito cultural que fala do fracasso terreno, da incapacidade de reagir e do sofrimento espiritual, não basta examinar a história da palavra e da posição honrosa que os turcos a ela atribuem. Husum é a "dor negra, elencando entre as suas causas possíveis o medo da morte, o amor, a derrota, as más ações e uma dúvida quanto ao futuro imediato.
De modo que a husum se origina da mesma paixão negra da melancolia, cuja etmologia se  refere a uma visão baseada nos humores.

Filme "A Grande Beleza -
Que transmite em Roma que o sentido é fútil, que lá não é possivel encontrar um real significado para a vida. Roma é uma das cidades mais belas do mundo, feita por italianos do passado.
Hoje não é possível replicar essa beleza. O contraste entre a beleza da cidade e da falta de beleza das pessoas é motivo de reflexão, motivando uma percepção melancólica do que foi perdido, e que sente em Roma que o sentido da vida é fútil, que lá não é possível encontrar um real significado para a existência.

Filme "Melancolia" de Lars von Trier.
Retrata uma tristeza opressiva , sem solução, um sentimento de desânimo e de conformação obrigatória com um destino inexorável de fim de mundo, como um manto agourento e pérfido a pairar agressivo sobre o mundo.

Já no Brasil temos a melancolia à brasileira - "este quebranto nosso, é um exercício da lucidez temperada pela esperança".
O Rio de Janeiro -
Como dizia Proust "deixem as mulheres bonitas para os homens sem imaginação".
Abstraia um pouco a beleza e siga a recomendação de Mário Quintana que dizia:
----Gosto muito do Rio, mas gosto mais dos túneis do Rio, pois ao atravessá-lo, oculta-se, por um instante, a sua paisagem.
Mas atrás da beleza e da badalada possível alegria e descontração do carioca, quem tem "olhos de ver" sentirá - o que pode ser extrapolado para o resto do Brasil - um sentimento que é preciso esconder, camuflar, uma real apreensão, o sentimento que algo está faltando e que as peças teimam em não se encaixar e a falta de vontade de compreender, reflete um anseio por transcendência, que engloba acontecimentos ainda não completamente esclarecidos.

"Há mais lucidez na dúvida honesta do que na crença dogmática. A dúvida é a mãe da reflexão. Da crença não nasce senão o amém".

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

CAUSOS CORPORATIVOS

Explicações necessárias

Acredito que o título "causos corporativos" nada mais é do que a embalagem adulcarada e/ou esperançosa e otimista do relato de uma vida.
É necessário compreender que não obedece cronograma de fases específicas, o que seria uma auto-biografia, mas sim lembranças difusas de épocas de existência que se apresentaram trazidas pela memória e acalentadas pela emoção de revive-las. Estas experiências se passaram fora de época e são narradas dentro da atemporidade, no aprendizado da convivência, do respeito, da escuta, do diálogo, permitindo-nos ser, não apenas estar.
Reflete tambem a constatação de desânimo e impotência com os atuais problemas que afetam a humanidade (a sociedade). Completa exaustão com os desencontros e falências do bom senso na condução da concordia entre os homens.
Uma ansiedade traduzida em clamor surdo, uma intuição global de ruptura, de quebra de paradigmas, a evolução não linear e contínua da história que se dá por meio da saltos e de rupturas e portanto de forma abrupta e inesperada. Falência da ética, dos valores, dos princípios e ao mesmo tempo a ascenção das novas tecnologias que nos tiranizam, bem como a prevalência da ciência sobre o espírito.
Preocupa-nos sobremaneira a intuição que estamos no limiar de um novo capitalismo.
Não podemos fugir de um duelo inevitável que a encruzilhada da história nos obriga a enfrentar. Hoje convivemos com realidades antagônicas, díspares que nos leva a reformular conceitos e aceitar o "solavanco" poderoso de um novo pensar.
Poderoso por ser ainda desconhecido, que se apresenta nebuloso, etéreo, virtual.
Para conhece-lo ou tentar, ao menos, levantar um pouco a névoa que o envolve, é necessário usar ao máximo sensibilidade e nossa intuição, ouvindo e aprendendo com os surpreendentes anseios e desejos da nova sociedade.
Nosso conhecimento hoje é deficitário e se assemelha a vetores perdulários a se extinguir no infinito. Precisamos nos conectar e captar esses sinais, aperfeiçoando nossos sensores.
O eterno ciclo do reinício, página virada, outra se inicia. Aí se configura o sentimento o sentimento de que cada incognita, cada ator social, conseguiu imprimir a sua assinatura num capítulo da história, e que os dias, meses e anos passaram a andar porque foram movidos por uma vontade coletiva.
São momentos de explosão comunitária, de emoção indiscritível e quando elas acontecem os consensos formados no tecido social tem conteúdo positivo - a construção do novo.
Segundo Erik Hobsbawn " a esperança e a previsão embora inseparáveis não são a mesma coisa, e toda previsão sobre o mundo real, tem que repousar em algum tipo de referência sobre o futuro, a partir daquilo que aconteceu no passado, ou seja, a partir da História".

Depois de muitas mudanças que contrariaram nossas expectativas, vimos que a História era mais astuta e inventiva do que pensamos.
 Por isso chegou-se a uma conclusão que vai ao encontro da afirmação de John M. Keines: "O inevitável não acontece nunca, o inesperado sempre".
Estamos no limiar de uma nova forma de capitalismo?
Convivemos com um capitalismo que se tornou refém do "estabilichment" financeiro, sugador implacável dos recursos oriundos da prática e das trocas do capital - esta bruma espessa impede que se visualize novos caminhos alternativos.
Jung preconizou estas reviravoltas, propondo que as possíveis mudanças adveriam de "coincidências significativas. A elas poderíamos associar a admirável frase de Jacques Riviere aplicada às civilizações e seus momentos históricos: "Acontece a um homem, não o que ele merece, mas o que lhe assemelha".
É lamentável que o historiador entenda como indigno da sua ciência a ressenciamento e o exame dessas coincidências que tem um sentido e entreabem bruscamente uma porta para outra face do Universo, onde o tempo já não é linear. A sua ciência está em atraso sobre as teorias modernas, que, tanto no estudo do homem, como no da matéria, nos mostra, cada vez mais reduzidas as distâncias entre passado e futuro.
Separa-nos sebes cada vez mais estreitas no jardim do destino, de um passado conservado por inteiro e de um amanhã inteiramente formado. A nossa vida está aberta para grandes espaços".
Temos que ter extremo cuidado com os maniqueísmos  que não veem nuances e complexidades.
Será que a partir da economia é que teremos um novo pensar?
Ou será o contrário, isto é, a partir de um novo pensar, vamos estruturar um novo modelo econômico de desenvolvimento.
Acredito nesse novo pensar, calcado fundamentalmente no ser humano, valorizando o que hoje desprezamos e catalogamos de surpérfluo - o ócio, o silêncio o desenvolvimento do espírito mágico, o plano da intuição poética, o plano da inteligência pura. Estabelecer comunicação entre eles, verificar por comparação as verdades contidas em cada fase e fazer finalmente surgir uma hipótese na qual se achem interligadas essas verdades, formando um intelecto geral (conhecimento e cooperação social).
Ela depende da convergência de uma massa crítica contundente, com um projeto que ordene o passo seguinte do desenvolvimento.
Mas o gigantismo dos interesses do capitalismo não pode ser subestimado e combatido só com boas intenções das soluções simplistas.
O que move a democracia é a lógica das "inclusões sucessivas" que ocorrem a medida em que grupos minoritários vão se organizando e ganhando voz através de suas contribuições, expondo suas experiências particulares - alargamento de conceitos.
E essa vanguarda que representa o novo.
Uma transformação solitária não inventará práticas completamente novas. Ela desenvolverá o que muitas vezes aparecem em germe, mas não pode frutificar por ter nascido em solo árido, como um "ponto fora da curva", ou em uma situação que não conseguiu durar.
Aumentar o número de pontos fora da curva é uma boa forma de dar mais força a um futuro que será atacado por todos os lados, que terá a fragilidade do inesperado e do improvável.
Procurar sempre estes pontos fora da curva e imaginar que a sua consolidação vai certamente produzir modelos.
O nome da crise é a riqueza que não reparte. Não apenas o patrimônio acumulado, mas sobretudo as estruturas que as realimentam e a protegem com salvaguardas intransponíveis.
A riqueza que não reparte é antologicamente avessa à construção de um destino compartilhado. Por mais que se dissimule o rosto da sabotagem, seu rastro planetário deixa as marcas da soberba autoreferente que se avoca igualmente apátrida e auto-regulável.
O futuro próximo da economia global tenderá a um estado em que apenas 20% da força de trabalho será capaz de fazer todo o trabalho necessário, de modo que 80% das pessoas, irrelevantes e inúteis e portanto potencialmente desempregadas. Um sistema que torna 80% das pessoas irrelevantes e inúteis não será ele mesmo irrelevante e inútil?
Se continuarmos nesse estágio de extasia atual chegaremos a este patamar num futuro próximo.
É bom lembrar que pensadores como Andre Gorz  e Robert kurs(?) como profetas já começavam a preconizar este futuro dizendo: "a produtividade da força de trabalho pós-fordista não depende mais da celeridade com a qual sujeitos executam tarefas prescritas. Ela depende de um conjunto de faculdades "cognitivas", de saberes intuitivos, da capacidade de julgar e de reagir ao imprevisto - coisas que não se ensinam, mas que evidenciam o desabrochar das pessoas.
Pagar apenas o tempo de trabalho imediato é injusto. O capital pretende apropriar-se gratuitamente das capacidades e dos saberes que os indivíduos desenvolvem fora do trabalho.
Rearticulação da relação entre valor, capital e saber, a partir do momento em que o valor não for mais diretamente vinculado à posse dos meios de produção, e mais ao saber "imaterial" que só pode ser sintetizado por um tempo livre para aprimorar-se em esferas ampliadas de iinteração social.
"Imaterial"= Capital cognitivo. Será a senha para a crise do capitalismo.
Hoje esta possibilidade passou a ser real com o intelecto geral privatizado - milhões de trabalhadores intelectuais não se separam mais das condições objetivas de seu trabalho (possuem seus próprios computadores).
"Nós somos aqueles por quem estávamos esperando".
Como os trabalhadores cognitivos vão eliminar os chefes, porque o controle corporativo sobre o trabalho cognitivo está completamente ultrapassado.
O que os novos movimentos sociais assinalam, é que a época do salário acabou e passamos do confronto entre trabalho e capital referente ao salário, para o confronto entre a multidão e o Estado referente à instauração da renda do cidadão.
A criatividade não é mais individual, mas imediatamente coletivizada, faz parte das "áreas comuns", de modo que qualquer tentativa de privatiza-lo, por "copyright" se torna problemática. Microsoft que faz exatamente isso, organiza e explora a sinergia coletiva de singularidades cognitivas criativas.
O descolar de um pensamento ortodoxo e conservador faz com que como num preambulo do imaterial ou cognitivo, nos deparemos com o inusitado, convivendo com termas nunca pensados como "circulos concêntricos ou ciclos de Nicolai Kordratiev, ou estágios que se findam e anunciam um novo período.
A passagem da inteligência do estado binário para o estado analógico, a passagem da sua consciência do estado ordinário para o estado de vigilância superior.(O observador).
Ele aguarda que a máquina comece a trabalhar analogicamente, que se produzam, no domínio silencioso do seu cérebro, conexões ultra-rápidas que lhe revelarão a realidade total da coisa apresentada.
"O pouco que vemos é devido ao pouco que somos".
Procurar desenvolver disciplinas heterodoxas e não convencionais como semióforos que se  apresentam sutis, misteriosos, imaginativos e principalmente ousados.
É evidente que a solução não se apresentará límpida e completa como um "insigt", mas nos dará mais subsídios para continuarmos propondo.
Usar a formula Beckettiana de visualizar um problema:
"Tente de novo, erre de novo, erre melhor".
Em termos Kierkegaardianos o progresso revolucionário não envolve um progresso gradual, mas um movimento repetitivo, um movimento de repetir o princípio várias vezes.
Acredito que as transformações se apresentam quase sempre como evidências camufladas, cujos indicadores são os sinais, os acasos, as coincidências, normalmente desprezadas por nós.
Ouso propor que pensemos nos ciclos, mais especificamente "ciclos de Kordratiev" como estágios que se findam e anunciam um novo período.
O eterno renovar, perspectivas cumulativas de experiências e vivencias enriquecedoras que procura pontos centrais que deflagam processos.
Um ciclo de vida, individual, por exemplo, só se configura real dentro de mudanças de ciclos em níveis que lhe são correlatos - ciclos familiares, empresariais, políticos e tambem universais.
Quando as pessoas presentem de forma vaidosa que estão sob a influência de um novo ciclo, não entendem que isto é o extremo final de um processo acumulativo de experiências que envolve um sistema macro de decisões.
Em consequência desse  raciocínio é obrigatório  ligar com os "Circulos Convergentes" - aqueles formados quando se atira uma pedra num lago tranquilo. Começa-se a formar, primeiro círculos grandes e prosseguindo com os impactos, forma-se círculos médios e pequenos - e todos vão se aproximando e se misturando, criando, metaforicamente um conjunto novo e surpreendente de novas concepções de mudanças.
Analisar que embora de forma ainda embrionária e um pouco confusa a humanidade como um todo - massa crítica - percebe de forma intuitiva, não convencional, a evolução que vai originar a transformação do capitalismo, como é visto na atualidade.
O capitalismo nos faz dosar nosso libido (ou força pessoal) e os torna hábitos, gasto de energia.
Não esquecer tambem de valorizar o que os alemães chamam de "Zeitgeist", o espírito do tempo, ou seja, tudo acontece em seu tempo certo.
Vivemos no sistema mundo capitalista denominado etapas economicas de movimentos cíclicos de ondas largas.
Se a teoria dos ciclos é correta então temos nos dias atuais, nenhuma crise terminal, mas apenas fases onde o sistema busca se reequilibrar sob bases diferentes do neo-liberalismo dos últimos 30 anos.
É possível tambem entender esta angustia quase palpavel, uma intuição que se revela quase verdadeira de mudanças estruturais na sociedade quando a associamos, por exemplo, com que pensava  Hipocrates (pai da medicina).
"Paroxismo Morbido", o instante  em que se declaram nitidamente os sintomas da moléstia, permitindo o diagnóstico e o prognóstico.
Na vida das civilizações é tambem possível discernir certas alterações significativas na estrutura social, que engloba, no mesmo sistema mentalidades, organizações de poder e condições espaciais, ou tecnológicas de base.
Como no caso de organismos vivos, tais alterações costumam significar a passagem de uma fase de vida para outra, ou seja, uma sucessão de épocas históricas.
É prudente que encaremos com coragem esta fase de "Paroxismo Mórbido", recolhendo com humildade os ensinamentos que desprezamos, por inércia ou preconceito visando nos fortalecer co novos conceitos para assimilar, deglutir e metabolizar esta configuração nada otimista, para daí então propor soluções inovadoras - é preciso enfatizar o novo e não a novidade.
O que esta fase nos alerta é que o paciente (a sociedade) atingiu um estágio preocupante e que providencias\ drásticas precisam ser tomadas.
"Não há nada tão poderoso quanto a idéia cujo tempo chegou"  - VIctor Hugo.
Talvez o novo sempre tenha algo de primitivo. Mas o que se instaura nessa fase não é o primitivo selvagem. É um primitivo doce, quase infantil, que sobrevive nos pontos mortos e nas horas vagas, quando as máquinas assumissem todas as tarefas, as hierarquias de valores vão se inverter.
Tudo aquilo que é irrelevante, passará a ser fundamental, porque é a outra face da vida, que o trabalho não contempla.
"Vale tudo aquilo que é para nada".
Manifestações paralelas devem obrigatoriamente ser lembradas.
O combate entre ideia e matéria está no centro da obra de Hersog: Fitzcarrardo flerta com o impossível, vira desejo em destino e recebe os contra golpes da matéria por te-la agredido rudemente com a ideia. Para Sartre cada situação (essa nossa, por exemplo) é uma ratoeira. Há muros por todos os lados - na verdade não há saidas a escolher. Uma saída é algo que se inventa. E a cada um, inventando a sua saída, inventa-se a si mesmo. O homem é para ser inventado a cada dia.
Gostaria de espairecer um pouco e terminar citando Umberto Eco: sobre a Paródia:
..."estudiosos de várias disciplinas, para desafiar com justificadas suspeitas as coisas que vez por outra são feitas a sério. O que muito me conforta, porque uma das primeiras e mais nobres funções das coisas pouco sérias é a de lançar uma sombra de desconfiança sobre as coisas demasiado sérias - e tal é a função da Paródia.
Porque este é o destino da Paródia: ela não deve jamais temer o exagero.
Se acertar no alvo, não fará mais do que prefigurar algo que, mais tarde, outros farão sem rir - e sem enrubecer - com firme e viril seriedade.



domingo, 17 de janeiro de 2016

CAUSOS CORPORATIVOS


Exportação -

Vemos com tristeza o fraco desempenho de nossas exportações atingindo  performance ridículas, com números muito aquem daqueles ideais para equilibrar nossa balança comercial.
É forçoso reconhecer que não temos agido no mercado internacional com a devida agressividade que se requer em momento de tamanha competitividade e protecionismo, como o que se afigura no momento.
Não adianta oferecer desculpas esteriotipadas e gastas, sem imaginação como a famosa de que o custo Brasil é o responsável pelo nosso mau desempenho.
Ele pode ser um impedimento a mais no processo, mas seguramente não é o mais importante.
O fundamental, é ter vontade política para vender.
Nossas empresas tem equipes de vendas preparadas para esse desafio? Ou simplesmente saem a procura de negócios sem o devido planejamento e pior, sem a devida garra e vontade de vender que caracteriza o predador  em busca de alimento.
Apatia típica da nossa cultura derrotista e com a síndrome do complexo de inferioridade, legados que nos deixaram as raças que configuraram o homem brasileiro - o homem cordial. Herança ibérica, misto de conformismo com fatalismo.
E a nossa diplomacia comercial?
Nossos diplomatas são verdadeiros "dandis", convivendo com elegância e desenvoltura em festas e efemérides inócuas e estéries oferecendo imagem de homens educados e elegantes, porem fazem questão de não se emiscuirem em qualquer atividade que possa se confundir com vendas.
Exportar é uma verdadeira guerra e o Brasil e seus diplomatas se comportam como a vestal do templo, toda pudica e transpirando inocência.
Estes homens tambem acreditam que é incompatível o convívio espúrio com atividades de venda.
Enquanto isso, nossos inimigos, aguerridos e extremamente agressivos esquecem os salamaleques dos jogos de salão e arregaçam as mangas, defendendo com unhas e dentes as políticas comerciais de seus respectivos países.
Essa análise alem de confessadamente pretensiosa e institucional, cabe perfeitamente quando configurado em nossa própria empresa da época onde o departamento de exportação primava por sua performance medíocre, não colaborando em nada para o aumento de nossos negócios com o exterior.
Já no inicio, nos primórdios, desde o anúncio dos integrantes desse departamento já era possível prever sua ineficácia.
E como diz a lei de Murphy: "Da onde menos se espera, daí que não sai nada mesmo".
Eram dois senhores que já tinham passagens por outros setores em cargos diferentes e em nenhum deles obtiveram sucesso.
Mas eram elegantes e de fino trato, alem, é claro, de certa proteção da diretoria, nunca explicada.
Voltavam com relatórios impecáveis, minuciosos, com detalhes e aspectos gerais de cada país específico, mas...nenhum resultado prático - vendas zero!!
O inacreditável é que permaneceram por muito tempo exercendo sua incapacidade.
Esses erros somados a outros erros conceituais contribuiram para a derrocada total dessa organização.
A empresa e principalmente a sua Marca não resistiram e simplesmente desapareceram na bruma espessa da história, que não perdoa a incompetência.
Em contra partida e aí já colaborando como consultor de uma grande cerâmica espanhola pude constatar como era primordial em seu plano estratégico incentivar e priorizar política de modernização e otimização do seu departamento de exportação.
Incentivo para a produtividade baseada em estudos que orientavam políticas de exportação vencedoras, visando vender mais e com mais lucratividade.
O folclore, que via de regra, alimenta as várias "estórias" das empresas, narra uma específica e muito significativa própria para essa situação.
Diz a lenda  que determinado profissional designado a atender determinado mercado no exterior, sempre voltava com muitas desculpas e nenhuma ordem de compra.
Dizia sempre:
----Existem muitas perspectivas.
E acada viagem e novos fracassos desculpava-se sempre com o seu velho argumento:
---São muitas as perspectivas.
Cansados dessas evasivas os responsáveis resolveram a situação.
No dia do pagamento, o funcionário recebeu o seu holerite da seguinte forma -
"Vale 5.000 perspectivas!!!
Quem vende realidade ilusória recebe em perspectivas.



CAUSOS CORPORATIVOS

Fechamento do Mês -

Cenário - Industria de matérias primas, subdisiária de multinacional americana.
Como gerente nacional de vendas, meu expediente era dividido entre os escritórios em São Paulo e a fábrica, situada no interior.
Essa vida atribulada se complicou quando o nosso Gerente Geral adoeceu e ficou impossibilitado de trabalhar.
Passei então a acumular todas as responsabilidades da empresa.
A permanência na fábrica ficou mais frequente e como os problemas eram grandes resolvi empreender e consolidar ambiente mais acolhedor e amigo, empreendendo políticas de bom humor e solidariedade, incluindo aí algumas gozações saudáveis.
O nosso químico era um cidadão carrancudo, reservado, digno representante do interiorano que de maneira carinhosa passamos a chamar "caipira" - respeitando sempre a sua sabedoria silenciosa.
A ele eram, via de regra, reservadas as nossas "pegadinhas".
Determinado dia em conversa informal, tomando um cafezinho, coloquei no bolso da minha calça um guardanapo de pano na região dos orgãos genitais. Apetando o volume formado, proclamei envaidecido o tamanho grandioso do meu penis.
Foi uma risada geral e provocou um choque no nosso químico que imediatamente, entre perplexo e inacreditavelmente crédulo exclamou:
----Seu Fernando!!!
Era preciso tambem lidar com irreverência situações mais preocupantes, como por exemplo, os dias de fechamento de mês.
Recebia constantemente telefonemas dos responsáveis pela consolidação do faturamento do grupo como um todo.
E a cada telefonema, já tarde da noite, havia um pedido para arranjarmos, de qualquer maneira, mais e mais ordens de embarque, visando atingir o número consolidado.
Como era de se esperar e a cada novo pedido de superação eu ficava mais nervoso, e para descarregar minha ansiedade saia e andava na beira de um pequeno lago existente ali mesmo do lado do escritório e gritava a todo pulmão, espantando os gansos já quase adormecidos:
----Puta que o pariu! Puta que o pariu!, daqui a pouco vou me fantasiar de produto e vou me faturar eu mesmo.
Foda-se este número programado e irreal e foda-se o meu comprometimento com essa mentira.
Depois desse extravazamento mercurial, voltava para dentro e com calma me preparava para voltar para casa.
CAUSOS CORPORATIVOS


Quem Sobe Muito... -

Empresa multinacional americana ainda com a síndrome de não entender o Brasil, e trazer constantemente, presidentes e diretores americanos para gerir a empresa.
Só conseguiram fracassos!
Então esse ambiente conturbado e cheio de incertezas germinou uma cultura atípica de valorização do medíocre.
Portanto as promoções eram dadas àqueles que sabiam conviver com o puxa saquismo e a subserviência.
O medíocre se cerca de medíocre!
Está claro tambem que devido ao fraco desempenho e baixo rendimento esses alpinistas corporativos, não resistiam e eram defenestrados rapidamente.
Cultivou-se o hábito de entender que quem está subindo na hierarquia com muita rapidez será o próximo a receber o "bilhete azul" - a demissão.
A "cultura do corredor", ou seja, a fofoca era pródiga em maldades ao analisar cada promoção indevida.
Dizia que o escolhido, da ocasião, quando assumia, já estava com um rojão enterrado no rabo, e que os sádicos passavam pela porta da sua sala a todo momento com uma vela acesa na mão.
Ra Tim Bum!!!!
CAUSOS CORPORATIVOS

Sinergia - Suas origens.  --

Houve uma época que como executivo de vendas de empresa multinacional, me deparei com uma situação inusitada.
Tínhamos um cliente que como fabricante de utencílios agrícolas, como foices. machados, enxadas, e outros era consumidor regular de nossos produtos de linha.
Havia uma grande aproximação entre nossas empresas, fruto de anos de convivência bastante produtiva.
Com o correr do tempo começamos a entender que nossas relações poderiam ficar bem mais próximas, maximizando nossas trocas visando atender mercado reprimido e ainda embrionário, mas bastante promissor.
È preciso esclarecer que dentro de nossa linha de produção havia um produto específico para afiar exatamente aqueles produtos por eles fabricados.
Era uma pedra em formato elíptico muito conhecida e admirada, principalmente no interior no interior do Brasil.
A tal ponto ela era importante que conferia ao seu possuidor certo "status" que agregava valor àquele que orgulhosamente a levava em seu bolso traseiro, mostrando-a dissimuladamente.
Ela era comercializada e vendida normalmente para grandes distribuidores que tinham ramificações nos glotões mais remotos do país.
Mas assim mesmo tínhamos certeza que ainda era necessário mais esforços no sentido de atingir essa imensa demanda reprimida.
Daí surgiu a idéia de propormos um "fato novo" àquele cliente referido no início.
Eles podiam acrescentar ao seu port-fólio, alem de seus produtos a nossa pedra como complemento e com imensa sinergia, visando atender o consumidor final.
Não foi fácil convencer nossa diretoria desse "achado" comercial, pois teríamos que abrir mão do nosso nome e transferi-lo e aceita-lo com um novo nome - o nome do cliente.É evidente que continuaríamos a fabrica-la normalmente e sem prejuizo de nossa vendas normais.
Era, para a época, um negócio ousado e inusitado, mas com enormes perspectivas comerciais.
Resumindo, fechamos o negócio e o cliente após consultar suas fontes ficou entusiasmado com as respostas positivas e imediatamente nos deu ordem de compra que abrangia uma quantidade muito maior que as nossas espectativas mais otimistas poderiam supor.
Era uma nova maneira  de se entender o valor da sinergia, e sem dúvida esta abordagem imaginativa foi uma das pioneiras dessa nova forma de negociação

CAUSOS CORPORATIVOS

Falar 2 linguas -
Empresa alemã, rígida e sem jogo de cintura, privilegiando a sisudez, a pontualidade e a busca de resultados, alicerçada na convicção draconiana da eficácia de seus executivos financeiros.
Sim, porque o julgamento de performance era muito simplório e rasteiro, pois acreditava no profissional que tinha a máquina de calcular como guia, a indicar os caminhos mais promissores.
O riso, a brincadeira, a gosação inocente tão importante para a aproximação das pessoas, gerando em consequência o tão almejado "espírito de corpo", extremamente necessário para alavancar, através da união de seus vários departamentos, o sucesso  programado, esses atributos não eram valorizados.
Ao contrário, gerava mau estar e repreensão.
Executar projeto visando melhorar eficácia, por exemplo, no lançamento de um novo produto, baseado em estudos do departamento de vendas, eram barrados e não executados até que um "liminar" financeiro, baseado só em números, desse a sua aprovação final.
O presidente da empresa, todo final de ano, patrocinava com pompa, o encerramento do ano, convocando todos os executivos para um jantar comemorativo.
Nessa ocasião fazia um retrospecto do ano e aproveitava para contar sempre a mesma piada, velha e sem graça, do gato que falava 2 linguas. Dizia ele que o gato fazia plantão em frente a ratoeira e começava a latir. O rato achando que estava seguro saía e era devorado.
Essa merda, sem imaginação e sem humor era aplaudida pela platéia submissa e sem personalidade.
Mas esse exemplo de piada deveria incentivar esse presidente a por em prática o conceito velado desse pseudo humor.
Devia entender que ele concentra um universo imenso de correlações que o credenciam a ser portador de verdades ainda não manifestadas mas que encerram grandes soluções.
Deveria então promover as revoluções que a metáfora das 2 linguas propõe para incentivar que todos os departamentos falassem "várias" linguas e assim fazendo promoveria a união ecumênica de seus profissionais.
Mas para isso precisaria de outros atributos que infelizmente a máquina de calcular (o lado financeiro) não pode proporcionar.

sábado, 16 de janeiro de 2016

CAUSOS CORPORATIVOS


O Gerente e o Palavrão -
Executivo de vendas de uma empresa fabricante de matéria prima importantes para industria em geral.
Estávamos vivendo uma época de euforia econômica e o mercado era totalmente comprador.
Foi uma época enganosa em que empresários medíocres, sem nenhum preparo para entender o que realmente estava ocorrendo e simplesmente obedecendo seus instintos primários e arcaicos de levar vantagem em tudo, vendo a facilidade que seus produtos eram absorvidos, simplesmente destruiram seus Dpto. de vendas, colocando na rua os seus integrantes.
Quando a euforia passou e a realidade voltou a ser a norteadora das estratégias, viram-se orfãos de seus contatos comerciais e tiveram que começar tudo de novo, sem contar que perderam, em consequência, toda eficácia calcada na experiência acumulada daqueles "jogados fora", tidos como descartáveis e improdutivos. São aqueles que dizem que quando as vendas vão bem, é ´porque o meu produto é bom, agora quando vão mal, é porque o Depto. de vendas não funciona.
Bom, não foi o nosso caso, mas sequelas desse tempo eram evidentes no nosso dia a dia.
Com excessos de pedidos estávamos sempre  atrasados com nossas entregas, causando sérios desentendimentos com nossos clientes . A tal ponto que fui obrigado a agendar uma visita à nossa fábrica de 2 diretores de uma grande empresa do Rio Grande do Sul, interessados em negociar, pessoalmente uma solução para o seu problema específico. isto é, atrasos constantes prejudicando sua produção.
Nossa fábrica estava situada no interior do Estado SP, cidade bem próxima de Sã Paulo.
Portanto levei os 2 representantes do cliente até nossos escritórios anexos à fábrica para o encontro com nosso Gerente Geral.
Eram instalações bastante modestas e com pouca privacidade.
Sentamos em uma sala de reunião contigua á sala do Gerente Geral.
Ele estava em reunião com nosso gerente de produção e nos pareceu que a conversa não estava nem um pouco amigável.
Lá pelas tantas e no auge da altercação ouvimos, perplexos, o extravasamento de cólera vindo da referida sala.
Disse o Gerente Geral:
----Aqui nessa empresa, eu não admito que nenhum"filho da puta" venha questionar minhas ordens.
O"filho da puta" ressoou com um eco retumbante, empregnando o ambiente de mau estar.
Para disfarçar, propus aos visitantes uma visita ás nossas instalações.
Na volta, já com os ânimos acalmados, fizemos as apresentações e a reunião seguiu sem atropelos.
Na volta, já no carro, um dos executivos comentou que aquele "filho da puta" tão perimptório e agressivo foi um aviso para que as reinvidicações e reclamações programadas fossem minimizadas.
Quase sempre o acaso vem no momento mais adequado, a salvar situações que aparentemente iriam se tornar problemáticas.
"Viva o acaso e o filho da puta".
CAUSOS CORPORATIVOS

O Gago e a Litorina -

Início de carreira - recem formado trabalhando na região de Campinas, embora continuasse a morar em São Paulo, e portanto passageiro frequente da Litorina que ligava estas duas cidades e que nos deixava pela manhã e nos trazia à tarde.
Litorina, para quem não sabe era um mini-trem composto por somente 2 vagões. Utilizado no passado para percorrer com mais rapidez, viagens curtas.
Meu colega de laboratório, o Xavier, era um rapaz muito simpático e fraterno, porem completamente gago!
Certo dia, já no final do expediente, Xavier se deu conta que faltava determinado produto exencial para o término de um experimento importante.
Não hesitou e ligou imediatamente para o Depto de compras solicitando ajuda.
O gerente de compras, o França era um tremendo gozador e começou ouvindo com paciência o Xavier dizendo, ou tentando dizer:
----Sr. França, pre...pre...preciso de um mate...mate...anh...mate...ri...rial e as palavras não saiam e ele nervoso começava a grunhir - anh,anh,ram e nada. Aí o França, maldoso e sabendo que dali não ia sair nada mesmo, gritou assustador:
----Xavier, fala depressa, que eu preciso correr para pegar a Litorina.
Aí o Xavier, resignado, desistiu e falou:
----Então eu afafalo amanhã!
CAUSOS CORPORATIVOS

Teimosia -

A experiência de vida como executivo comercial encerra não só estórias profissionais como tambem, e principalmente acontecimentos do dia a dia que enriquecem nosso entendimento e compreensão do ser humano.
Para melhor atender as demandas de várias partes do Brasil, tínhamos várias bases com escritórios de vendas e depósito de material para pronta entrega.
Um deles estava localizado em Recife e atendia todo o Nordeste.
Lembro de um episódio quando lá estive em viagem rotineira de avaliação e ajuda, bem como conhecimento do mercado. Anteriormente programado junto com o gerente regional, agendamos visita aos nossos clientes da região. Primeira etapa - visita a Fortaleza - CE
O profissional que nos representava no Estado era um cearense típico - falante, extrovertido e um exímio contador de "causos".
Foi possível constatar que os clientes o tratavam com grande respeito e confiança e havia uma empatia sincera entre eles.
No decorrer do dia foi possível ouvir as várias estórias do repertório infinito desse senhor.
Uma delas dizia que em Fortaleza vivia um personagem único, que tinha como característica fundamental a teimosia.
Era inclusive juiz de futebol de praia e era famoso pelas sua decisões sempre contrárias ao desejado pelos times em confronto. SE era penalty ele não dava, Se não era ele dava!
Teimoso como uma mula.
Certo domingo indo a praia com um amigo e conversando normalmente, ouviu seu companheiro dizer:
----Como estão lindas as dunas hoje.
E ele imediatamente retrucou:
----Não é duna é agua!!
O outro, surpreso, mas já conhecendo a "figura' voltou a afirmar que estavam vendo as dunas.
E ele irredutível teimava:
----È água, é água!!
Já com o "saco cheio"e querendo resolver logo a situação propôs que andassem até o local e lá ele iria provar que era duna.
Lá chegando constatou-se que na realidade aquilo que viam eram as dunas.
Bastante nervoso o amigo começou a atirar areia no teimoso e gritava  a cada arremesso:
----Está vendo? È duna.
E o cara de pau do teimoso erespondia:
----Não me molhe!
----Não me molhe!
CAUSOS CORPORATIVOS

"Seu João...Não Veio"!
O título é meio estranho, mas eu explico.
Joãozinho era um grande companheiro em nosso aguerrido e competente Depto. de Vendas.
Baixinho e falador, com sua voz de barítono, gostava de se "pavonear" contando suas conquistas amorosas.
Um dia, me confidenciou,que estava "comendo" a empregada, auxiliar da sua mulher nos afazeres da casa.
Passou algum tempo e ele me procurou, aflito, confessando que estava numa "sinuca de bico".
Dizia ele que à noite, depois do jantar quando sentava junto com a família para assistir televisão, começou a receber recados subrretícios  da empregada.
Escondida atrás de uma coluna, mas de frente para ele dizia aliando gestos e movimento da boca, mas sempre chorosa:
---- Seu João ainda não veio!!
Logicamente atribuindo ao atraso na menstruação.
E o coitado (?) do Joãozinho toda noite tinha que conviver, já meio desesperado, com essa dolorosa afirmação:
----Seu João ainda não veio!!
CAUSOS CORPORATIVOS

"O Pneu Voador" -

     "Tudo leva mais tempo do que se espera
       Tudo é mais difìcil do que se pensa
       Tudo o que pode não dar certo, não vai dar certo
       De onde menos se espera, daí que não sai nada mesmo."
                                                       
                                                    Leis de Murphy


As leis de Murphy. Quem não as conhece? Quem já não com elas brincou e recitando suas assertivas tentou justificar acontecimentos desagradáveis e pouco produtivos?
Quase sempre elas se tornam verdadeiras, na medida exata do pessimismo e baixo astral de quem com ela concorda. Geralmente, para tentar justificar a sua "má sorte". Lamentações, alta estima baixa, falta de motivação.
O melhor seria esquecer o Murphy e arregaçando as mangas pensar positivamente e ser otimista.
Em determinada fase da vida, atravessei momentos difícies, os quais estavam me levando ao desânimo e àquele sentimento perverso de se sentir excluido - nada dá certo para mim!
Estávamos no início da década de 80 e eu possuia uma Brasília 77. Este carro ainda era respeitado e o seu proprietário podia se orgulhar de possuí-lo.
O que vou relatar é absolutamente inusitado, chegando a ser bizarro. Alguns "mui amigos" comentam em voz baixa e maldosamente que não passa de uma grande mentira.
Às vezes, quando estou com paciência, peço o testemunho de pessoas que presenciaram a cena.
Faço isso com honestidade. Nada relacionado com o que era exigido pelo Baudolino( Humberto Eco) que dizia: "Atenção, não peço que testemunhes o que considerares falso, que seria pecado, mas que testemunhes falsamente o que julgar verdadeiro".
Mas vamos aos fatos.
Determinada manhã estava eu dirigindo a minha BMW (Brasilia Muito Velha), vindo de um encontro de negócios no ABC paulista.
Acabava de adentrar a 23 de Maio, vindo da Av. Bandeirantes, ali na altura do aeroporto de Congonhas.
De repente, como se vivenciasse um sonho, fui surpreendido com uma visão extraordinária.
Estava olhando de forma idiota e sem acreditar para um pneu suspenso no ar.
Ele, pneu, havia ultrapassado a passarela de pedestres, bateu uma vez no chão e tomando impulso estava em rota de colisão com quem? Adivinharam, o danado chocou-se violentamente com o parabrisa do carro e acomodou-se , sem cerimônia, no banco do carona ao meu lado.
Após o susto e de forma surpreendente mantive a calma e consegui, com esforço, encostar no meio fio.
Barulho ensurdecedor, buzinas estridentes, xingamentos, freadas, enfim o cáos.
E eu sentado, branco, horrorizado, tendo como companhia um pneu - sim ele era redondo e preto.
Fui cercado pela multidão que normalmente ocorre em acidentes - curiosos, gente solidária oferecendo ajuda, aproveitadores (o sr. já tem seguro?), proprietários de funilaria, etc.
Finalmente apareceu o "dono" do pneu. Contou que estava na pista contrária da 23 de Maio e que repentinamente, após um estrondo, e a perda de controle do carro,percebeu que o pneu do seu lado esquerdo desprendeu-se, com roda e tudo,e começou a pular pela avenida como se tivesse vida própria.
Na certa imaginou que já fosse carnaval e era hora do desfile da sua escola - a unidos da borracharia.
Enorme prejuizo.
O pior foi tentar explicar para a minha mulher que eu havia sido atropelado por um pneu.
Ela só acreditou quando em casa teve a paciência e o enorme trabalho de tirar, quase um a um, as centenas de migalhas de vidro que ficaram impregnadas no meu terno.
Portanto, naquele momento, ao invés de invocar a lei de Murphy, achei mais conveniente agradecer aos céus estar ainda vivo.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Causo Corporativos

"Espionagem"-
Empresa situada no interior do Estado de São Paulo, única fabricante de determinada matéria prima excencial na cadeia produtiva industrial.
A tranquilidade do monopólio foi abalada quando do surgimento de um concorrente que se pronunciava bastante agressivo.
"Monopólio - política usada por quem está habituado a trabalhar aperfeiçoando a técnica de gerar lucros na razão direta de sua ineficiência".
Olhando aquele momento em restrospectiva, confesso que praticávamos política acomodatícia e sem imaginação, visando maximizar nossa vantagem.
È evidente que passado o choque inicial formulamos novas estratégias de defesa e tambem de iniciativas mais criativas em busca de uma demanda reprimida conhecida mas não explorada.
Atravessávamos épocas mais, digamos , civilizadas onde era possível a convivência pacífica e fraterna orientando e amortizando possíveis rixas empresariais.
Dentro desse contexto concordamos em receber em nossa fábrica dois executivos dessa nova concorrente e cedemos, inclusive, uma quantidade de material (sub-produto) necessário para compor o primeiro estágio de sua produção.
Reunimo-no todos e após os ajustes necessários e promessas (cínicas, é verdade) de aproximação e honestidade na comercialização, foi proposto visita à fábrica que eles aceitaram surpresos, mas com evidente satisfação.
Deixaram suas maletas em cima da mesa de reunião. "Maledeta Curiositá, diria o italiano, mas era uma oportunidade única de saber possíveis segredos e iniciativas futuras do concorrente.
Depois de alguns minutos de hesitação suficientes para calar a falta de ética, e aproveitando a ausência do "inimigo" resolvemos espionar as respectivas maletas.
Em uma delas encontramos somente papeis sem importância e agenda de compromissos sem qualquer valor específico.
Na outra - surpresa!!- nenhum papel ou anotação mas, encontramos 2 revolveres.
A surpresa foi geral e somado ao remorso pelo possível ato não convencional, só nos restou esperar a volta da comitiva exploratória que inspecionava nossa fábrica.
Na saída cumprimentos afáveis e promessas e juras de boa convivência.
Ficou tambem a impressão camuflada, é verdade, de não provocar desavenças com este concorrente, evitando portanto eventuais "duelos"para os quais nós não estávamos preparados
Causos Corporativos


"O Homem do Malote" -
Na década de 80 a comunicação inter-companhia era ainda precária - começava-se de forma insipiente a conviver com a "modernidade" dos computadores e nem se pensava em telefone celular.
Portanto a interação fábrica/escritório de vendas era feito por telefone convencional e/ou malotes.

Havia uma unidade de várias fábricas diferenciadas concentradas em uma cidade próxima de São Paulo. A unidade fabricante de matéria prima por estar situada fora da sede central, em cidade um pouco mais distante da capital, tinha uma rotatividade de malotes mais espaçada e quem fazia essa função era um senhor com fortes características da sua região de origem - era um caipira nato, e para completar um contador de lorotas a consubstanciar suas supostas conquistas amorosas.
Virou motivo de gozação.
Em certo momento de intervalo, tomando café, eu esse senhor e mais um vendedor, aproveitamos para iniciar uma brincadeira com ele. Sabendo da sua fama de "conquistador", iniciamos um diálogo que era do seu interesse, ou seja, uma pílula "mágica" (anterior ao Viagra, evidentemente) que propiciava uma grande e prolongada ereção. Ele prestou muita atenção na conversa e se mostrou interessado nos detalhes. O amigo presente, inclusive detalhou um encontro com uma linda mulher cobiçada a muito tempo, que se apoixonou rendendo-se à sua performance sexual. Agradeceu a minha indicação e disse que estava me devendo um favor. Pedi a ele sigilo, pois o nome dessa pílula era, para mim, um grande trunfo. Evidentemente era tudo um grande teatro a testar a ingenuidade do nosso "caipira".
Passaram-se alguns dias e esse senhor, me chamando reservadamente para um canto, pediu que eu abrisse uma exceção e lhe desse o nome da famosa pílula, pois tinha programado um encontro especial. Relutei dramaticamente e depois me rendi ao seu pedido emocionado:
----Por favor, esse encontro é muito importante para mim!!
OK disse-lhe dessa vez você ganhou - o nome da pílula é ....
Na verdade essa pílula era receitada para favorecer e provocar desarranjos intestinais.
Passou-se mais algum tempo e notou-se que esse senhor não aparecia mais no escritório. A secretária finalmente informou quer o nosso amigo estava doente - com uma terrível e incontrolada "caganeira".


Café do Ponto -

Trabalhando no interior do Estado de São Paulo em uma cidade muito importante tive a oportunidade de conhecer tipos de pessoas curiosas e surpreendentes.
Após o expediente era normal que, para espairecer, reunimo-nos em um boteco muito simpático, com um chopp e comidinhas que embalavam conversas as mais divertidas.
Nesse ambiente proliferava o convívio de figuras absolutamente fora do que se convenciona chamar de normal. Uma fauna muito grande de exemplos curiosos, o que nos obriga a pinçar aqueles mais heterodóxicos:
"O buraqueador" - especializado em olhar mulheres através do buraco de fechaduras. Como ele conseguia era segredo, e ele se gabava de já ter "buraqueado" grande parte das mulheres da cidade cujas particularidades descrevia sem pudor.
Outras figuras vão ser citadas, mas vou detalhar aquele que me parece o mais surreal.
"Dadinho" - um rapaz alegre, contador de "causos" e que se envolveu em um acontecimento sui-generis.
Namorava já há algum tempo uma menina muito bonita e confessava ter amor sincero por ela. Tinha um rival, sujeito nada recomendável que vivia provocando o casal na esperança de com futricas e mal entendidos provocar brigas e a ruptura do namoro.
Uma noite, recolheu em um pedaço de jornal grande quantidade de merda. De madrugada, foi até a casa onde morava a menina e lançou contra as janelas da casa toda a merda acumulada e gritava muito alto:
---- Dadinho, você está maluco?
---- Não faça isso Dadinho.
È fácil concluir que a família  se voltou toda contra o Dadinho querendo explicações e por consequência houve o rompimento indignado do namoro.
Dadinho se manteve calmo e descobrindo quem era o causador do desastre, chamou o desafeto para uma conversa. Ele confessou o "crime" e argumentou que não tinha escrúpulo e fazia qualquer coisa para obter o que queria.
Dadinho ouviu quieto esse desabafo, não se alterou e só disse uma frase:
----Eu estou em litígio com você!!! Nada mais do que isso.
Passou-se uma semana e para surpresa de todos comentava-se que uma bomba (dinamite) explodira na casa do desafeto do Dadinho, derrubando literalmente a garagem e fazendo grande estragos em toda a casa.
"Estou em litígio com você"! Quando ouvir essa frase, lembre-se do Dadinho

"Paternis"
Rapaz de familia rica, mas completamente alheio ao convencional e sem nenhuma perspectiva de buscar um caminho normal, ou seja, aquele que a classe média da época julgava ser o melhor para os filhos: faculdade, pósgraduação buscando emprego no florescente mercado empresarial. Hoje sabemos que esses valores são, para dizer o mínimo, discutíveis.
"Paternis", como o próprio nome já identifica falava colocando o i e s, no final de qualquer frase.
Tinha dois amigos inseparáveis - o Mauritis e o Gravatis.
Conta-se que gostavam muito de corrida de cavalos e frequentavam com frequência o turfe de São Paulo. Tinham um informante profissional que lhes dava informações "de cocheira", isto é, sigilosas e que garantiriam apostas certas com lucro alto.
Esse informante se intitulava conde com seu sotaque italiano, e era, na verdade, um tremendo enganador.
Depois de uma indicação fajuta e que deu grande prejuizo ao grupo, ouviu-se o "Paternis" dizendo:
----Mauritis e Gravatis deram 30 marteladis cabecis de condis!!!!!!


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

CAUSOS CORPORATIVOS --



"Rosa da Fonseca - Anna Neri
Para quem se lembra, esses nomes eram navios de turismo que percorriam rotas de pequenas e médias distancias sempre ligando grandes centros a alvos turísticos de grande relevância e sempre em datas que englobavam feriados de no máximo 5 dias - Páscoa, Finados e outros.
Era um assíduo frequentador desses passeios, junto com amigos. Conhecia-se muitas pessoas, iniciavam-se amizades fortuitas e convivia-se com ambiente mágico de bordo, participando de festas e esportes em pleno mar
Uma vez, embarcado em um desses navios presenciei e convivi com um fato inusitado e para os descrentes absolutamente improvável e para os mais radicais, mentiroso.
Depois de uma festa de "arromba" em que se bebeu muito - era sábado e a noite estava iluminada por uma lua enorme e absolutamente bela.
No dia seguinte, quando do café da manhã, correu um "zum-zum-zum" preocupante. Dizia que um rapaz que fazia parte de um grupo conhecido havia sumido. Seu nome era Dudu e realmente se tornou uma figura obrigatória e querida de todos.
A rota era Santos-guaraparí, passando pelo Rio de Janeiro.
Esse incidente aconteceu na noite de saída do Rio, em busca do litoral d Espirito Santo.
As horas passavam e nada de encontrarem o Dudu. Lá pelas tantas fomos informados que o comandante havia recebido um telefonema da guarda costeira no intuito de confirmar se um rapaz com as características do Dudu era realmente passageiro do navio.
Diziam que ele fora entrgue às autoridades por uma embarcação cargueira com bandeira Sérvia e que ele estava completamente nú e bastante desorientado.
Com a burocracia satisfeita ficamos todos ansiosos para atrcar em VItória e poder resgatar o náufrago de volta.
Foi recebido como um heroi. Trazia todo o lado direito do rosto e do corpo alterado, com manchas vermelho/azuladas, consequencia natural do impacto do seu corpo conta o mar.
Contou-nos uma história que acreditamos verdadeira, porem,sem dúvida, fantástica.
Para melhor compreensão é necessário esclarecer que ele era rapaz muito alto e forte. Disse ele que na noite de sábado, completamente bebado subiu até o convés superior para , lomge dos olhares das pessoas, vomitar a vontade. Apoiou-se na grade protetora e inclinou-se ao máximo para que o vômito não respingasse no conves de baixo.
Com o movimento do navio perdeu o equilibrio e caiu, esborrajando-se de encontro às ondas.
DEntro da águae procurandorecompor-se, viu, desesperado o nosso navio seguir seu rumo, deixando-o ali, flutuando e agarrando-se à vida. Olhava para a terra e via borrões de luzes muito distantes mostrando ser impossível chegar-se à terra nadando.
Tirou toda a roupa e completamente nú começou a boiar e a seguir o instinto de sobrevivência.
Conta ele que foi boiando e rezando embaixo daquela lua exuberante viu extasiado que outro navio passava ao largo. Gritou e acenou com vigor e o navio, pasmem, parou e alertado por um tripulante solitário começou a procurar "homem ao mar". Depois de algum tempo não tendo sucesso na localização, o navio simplesmente acionou suas máquinas e partiu
Era um navio japonês.
O ânimo do Dudu ficou abaixo de zero e ele confessa tentou várias vezes o suicídio, mergulhando e forçando a ficar embaixo dagua na tentativa de desfalecer e se afogar.
Mas o instinto da vida é mais forte e ele foi recompensado, pois ao largo constatou a vinda de um outro navio em sua direção. Com o auxílio da lua grandiosa e alertados pelos gritos e acenos do Dudu, esse navio parou e com perceverança procurou e finalmente localizou o náufrago.
Retirado da água e completamente nú e sem documentos, os tripulantes brincavam que haviam resgatado o próprio Netuno.
O navio era Servio e depois de muita luta para comunicação em várias linguas e muitos gestos, chegara a um acordo e continuaram a viagem até Vitória onde entregaram seu fortuito passageiro às autoridades do porto.
História fantástica que mereceu, inclusive, uma entrevista num talk show famoso da época, onde o nosso heroi explicou novamente, cm detalhes como se safou dessa aventura.