terça-feira, 19 de janeiro de 2016

CAUSOS CORPORATIVOS

O Bem Comum -

Estamos vivendo momentos difíceis e preocupantes. Tomo a liberdade de ser um pouco radical para acrescentar momentos de barbárie (terrorismo) e de absoluta incompreensão social (desigualdade, fome, concentração mórbida de capital) etc.
Para tentar consubstanciar e mesmo decifrar todo esse inconformismo e a imprevisibilidade a vincar os hábitos, os humores da humanidade, como entendessem num átimo a irrelevância de suas atitudes e de suas preferências ambiciosas, via acúmulo de capital em detrimento da busca do bem comum , do respeito ao próximo, da generosidade, do convívio fraterno - voltar a ser humano!
Entendi como válido concretizar toda essa apreensão através da consciência da Melancolia, desde que abruptamente, ela preencheu um sentimento indefinível, ou seja, a humanidade espera, receiosa, ou mesmo apavorada por algo ainda vago, mas preocupante.
A consciência da Melancolia despertou de forma metafórica a conclusão desse enigma e sua decifração, consolidando todas as preocupações ainda indefinidas.
Como ela é etérea, volúvel e não exata, resolvi lhe dar um perfil real, a personificando, comparando-a a olhares distintos, ativando e conectando nosso inconsciente coletivo, acervo confiável de nossos anseios, desejos e ilusões.
Texto, tecido, textil.
Oportuna e sábia analogia, que vem nos auxiliar a entender melhor essas analogias.
Texto, tecido, textil, entrelaçamento de fios, preâmbulo para a formatização do real.
Portanto, aqui especificamente, texto é todo objeto portador de mensagem. Também os sinais em que se inscrevem essas mensagens podem ser os mais variados - os gestos do nosso corpo, as letras do alfabeto, as notas musicais, totens, cidades, filmes, etc.
A esse entrelaçamento de sinais físicos apropriados designamos o elo procurado para reafirmar nossa intenção.
Já a composição de significados é aquilo que a consciência pode capturar a partir dos sinais (semiótica?)
Essa captura é a interpretação que só existe devido aos intérpretes: de pessoas, signos, cidades e/ou filmes - no nosso caso específico, os dois últimos. Elas são manipuladas para relacionar os sinais físicos com um certo código. É preciso decodificar.
Melancolia - ela pode ser traduzida por essa nuvem espessa que paira opressiva e desconcertante, confundindo nossas sentimentos - seria o significante do presságio ainda sem identidade, de algo como tradutora fiel das apreensões humanas ainda ancoradas no indecifrável.
Aqui se pretende exemplificar esta angústia universal, reduzindo-se o olhar, tirando-o do macro e fixando em exemplos mais próximos e significativos.
O pensamento só pode captar esta coisa imaginária porque ela deixa vestígios de sua existência. Entra em contato com vestígios da existência de algo que se quer compreender, saber o que eles significam e estabelecer tramas conceituais e instrumentalizar a reflexão.
Melancolia como tema catalizador desses temas aparentemente díspares, todos centralizados em dois signos: filmes e cidades.
A melancolia das tardes/noites de pequenas cidades  do interior do Brasil.
São histórias particulares mas que espelham um desabrochar de apreensões que teimam em se apresentar em flaxes, mas que nos alertam e desfiguram um sentimento quase poético de desânimo.
Algo que pouco a pouco vai sendo armazenado no inconsciente e que devagar ocupa espaço em nossas  mentes.
A tristeza de um fim de rua, quase sem iluminação - o que virá após o fim da rua? o que se esconde atrás dessa esquina? na imagem dos últimos lampiões, das quebradas que vão dar no desconhecido.
Portanto vamos tentar entender a melancolia analisando, como figura de retórica, seus reflexos quando lembramos fatos que nos tocaram em filmes significativos e personalidade única de algumas cidades.
Istambul -
Do livro de Orhan Pamuk:
Husum a palavra turca para melancolia tem raiz árabe. Husum umbilicalmente ligada ao habitante de Istambul.
Para o sufismo a husum é a angústia espiritual que sentimos pela impossibilidade de nos aproximarmos ainda mais de Alá, por não termos como fazer o bastante por Alá nesse mundo.
Além disso, o que lhe traz sofrimento, é a ausência, e não a presença, de husum.
É a incapacidade de sentir a husum que o leva a senti-la.
Ele sofre por não sofrer o bastante. Para compreender a importância central da husum como conceito cultural que fala do fracasso terreno, da incapacidade de reagir e do sofrimento espiritual, não basta examinar a história da palavra e da posição honrosa que os turcos a ela atribuem. Husum é a "dor negra, elencando entre as suas causas possíveis o medo da morte, o amor, a derrota, as más ações e uma dúvida quanto ao futuro imediato.
De modo que a husum se origina da mesma paixão negra da melancolia, cuja etmologia se  refere a uma visão baseada nos humores.

Filme "A Grande Beleza -
Que transmite em Roma que o sentido é fútil, que lá não é possivel encontrar um real significado para a vida. Roma é uma das cidades mais belas do mundo, feita por italianos do passado.
Hoje não é possível replicar essa beleza. O contraste entre a beleza da cidade e da falta de beleza das pessoas é motivo de reflexão, motivando uma percepção melancólica do que foi perdido, e que sente em Roma que o sentido da vida é fútil, que lá não é possível encontrar um real significado para a existência.

Filme "Melancolia" de Lars von Trier.
Retrata uma tristeza opressiva , sem solução, um sentimento de desânimo e de conformação obrigatória com um destino inexorável de fim de mundo, como um manto agourento e pérfido a pairar agressivo sobre o mundo.

Já no Brasil temos a melancolia à brasileira - "este quebranto nosso, é um exercício da lucidez temperada pela esperança".
O Rio de Janeiro -
Como dizia Proust "deixem as mulheres bonitas para os homens sem imaginação".
Abstraia um pouco a beleza e siga a recomendação de Mário Quintana que dizia:
----Gosto muito do Rio, mas gosto mais dos túneis do Rio, pois ao atravessá-lo, oculta-se, por um instante, a sua paisagem.
Mas atrás da beleza e da badalada possível alegria e descontração do carioca, quem tem "olhos de ver" sentirá - o que pode ser extrapolado para o resto do Brasil - um sentimento que é preciso esconder, camuflar, uma real apreensão, o sentimento que algo está faltando e que as peças teimam em não se encaixar e a falta de vontade de compreender, reflete um anseio por transcendência, que engloba acontecimentos ainda não completamente esclarecidos.

"Há mais lucidez na dúvida honesta do que na crença dogmática. A dúvida é a mãe da reflexão. Da crença não nasce senão o amém".

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