sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Trabalho/Capital

Talvez utópico, mas extremamente pertinente se pensar em novo tipo de relacionamento envolvendo a atual forma de remuneração. È necessário ultrapassar o caráter puramente convencional e ultrapassado do termo "emprego formal".
A nova noção do trabalho, não mais aquele que conhecemos, ou seja, o aluguel parcial da capacidade e do esforço de cada profissional ao capital, mas a remuneração do tempo integral - abrangendo não só as 8 horas regulamentares, mas o total de horas que o indivíduo se empenhou em buscar conhecimentos e informações, adquirindo portanto, mais cultura. Esse processo sempre envolve pesquisa, leitura, e principalmente exige convívio e absorção de sabedoria encontrados nas coisas simples, no convívio humano, no reflitir e aprender com a experimentação do dia a dia, com a adversidade, fortalecendo assim o seu caráter e a sua autonomia.
Enfim, um generoso mosaico de situações e experiências que enobrecem a sua trajetória.
Isso tudo tem um preço que não está sendo pago.
Contribuindo para esta discusão citamos o autor Andre Gorz que sintetizou esses conceitos chamando-os de "O Imaterial", entre outras coisas.
Digo entre coisas coisas pois em seu livro "O Imaterial e Misérias do Presente, Riqueza do Possível", ele comenta sobre capitalismo pós-industrial e o esgotamento do potencial revolucionário do operariado. Fala tambem do cooperativismo.
Voltando ao tema, comenta sobre a "rearticulação da relação entre valor, capital e saber, a partir do momento em que o valor não for mais vinculado à posse dos meios de produção, mas ao saber "imaterial", que só pode ser sintetizado por quem tem tempo livre para aprimorar-se em esferas ampliadas de interação social".
Gorz insiste que a centralidade desse "imaterial" é próprio ao que ele chama de "capital cognitivo" e será a senha para a crise do capitalismo. Pois a centralidade do "imaterial" traz a possibilidade da criação de uma "dissidência digital" emancipatória.
È possivel pensar então que:
O trabalho assalariado está em regressão.
O capitalismo sofre de uma crise de super acumulação.
A recusa de homens e mulheres em serem tratados como mercadorias - em vender seu trabalho e seu tempo.
Renda contínua para um trabalho descontínuo.
A produtividade da força de trabalho pós fordista não depende mais da celeridade com a qual sujeitos executam tarefas prescritas. Ela depende de um conjunto de faculdades "cognitivas", de saberes intuitivos, da capacidade de julgar e de reagir ao imprevisto: coisas que não se ensinam, mas que evidenciam o desabrochar das pessoas.
Pagar apenas o tempo do trabalho imediato é injusto. O capital pretende apropriar-se gratuitamente das capacidades e dos saberes que as pessoas desenvolvem fora do seu trabalho.
Um capitalismo que pretende dominar as pessoas limitando suas capacidades às exigências mais imediatas do processo produtivo é incapaz de tirar proveito da revolução aberta pela micro-eletrônica.
Hoje, ao contrário, convivemos com o aumento do processo da terceirização, expressão maior do distanciamento capital/emprego.

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