sexta-feira, 24 de julho de 2009

Gastronomia- O Homem Cordial

O Homem Cordial
Sem apologias e sem qualquer lição dignificante atrás dessa frase tão simpática, mas também tão enganosa- homem cordial.
A vida em sociedade para o brasileiro, "é de certo modo uma verdadeira libertação do pavor que ele sente de viver consigo mesmo". "Ele é antes um viver nos outros".
Essa foi a afirmação de Sergio Buarque de Holanda ao qualificar o comportamento do brasileiro comum.
Nada melhor do que "viver nos outros" do que a confraternização culinária, onde pessoas se congregam, se ajudam e principalmente fogem da solidão.

Convivemos, sem dúvida, com um dualismo histórico, conformismo/fatalismo, nossa herança ibérica. A nós descendentes de portugueses se evidencia o fator do conformismo, ou alguma ligado ao "Sebastianismo", sentimento de eterna espera a uma utopia imaginada.
O brasileiro ainda é morno em seus protestos e reinvidicações, esquecido de seus direitos e fundamentalmente ignorante do significado da palavra indignação.

Quanto ao fatalismo dos Espanhóis me permito ilustrar esse comentário, com fato acontecido durante a guerra civil espanhola (1936-1939)
Conta a lenda que os espiões eventualmente descobertos dentro de cada exército oponente, eram imediatamente julgados e inevitavelmente condenados a morte, sumariamente.
Descoberto um espião nas fileiras republicanas, procedeu-se da maneira costumeira- foi julgado e condenado a ser fuzilado.
Estavam na região de Murcia e fazia um frio terrível.
O tenente comandante do pelotão e encarregado de executar o prisioneiro resolveu, em virtude do frio, protelar a missão, continuando a aproveitar o ambiente acolhedor das fogueiras do acampamento. E para não afetar o moral da tropa, resolveu levar o prisioneiro ao seu destino fatal para lugar longe dos soldados.
Partiram, portanto, quase ao nascer do sol.
No caminho, e aí se evidencia o fatalismo espanhol, o preso exclama:
- Mi comandante, com hace frio aqui em Murcia.
E o comandante, concordando, respondeu:
-Mira usted que nosotros, todavia, tenemos que regressar!!

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