sexta-feira, 31 de julho de 2009

Gastronomia - Máfia,/ reflexos empresariais

Gastronomia - Máfia
Como até em organizações criminosas, como estas que estamos acostumados a ver no cinema, existe uma pausa para a refeição em comum onde homens brutalizados e insensíveis, convivem fraternizados.
A culinária proporciona um ambiente de solidariedade, e não seria exagero deizer-se de um "espírito de corpo" extremamente necessário nas circunstâncias em que vivem.
Este tema é por demais controverso e complexo, analisando-se superficialmente, as vezes, nos surpreendemos pelo fascínio que ele exerce.
É evidente que não se concorda com os métodos nem com a violência daí oriundos, o que seria absurdo, mas que embala em nós um sentimento utópico de justiça, satisfazendo nossa indignação.
Como se pudéssemos praticar verdadeira metamoforse e nos sentirmos, nós próprios, dotados de poder para corrigir certas injustiças e satisfazer os instintos, aqueles escondidos no fundo do nosso caráter.
Assim fazendo parecería-nos como se estivéssemos praticando verdadeira catarse a jogar fora todas as nossas neuroses.
Gostaríamos, depois de ofendidos ou trapaceados, de revidar, dar o troco.
Embasados numa atitude quimérica de justiça, semelhante a um Don Corleone caboclo e, portanto, com métodos e requintes próprios da sensibilidade de cada um.

Reflexos empresariais
De como o tema máfia me fascina, seja em literatura seja em filmes.
Talvez o brasileiro comum gostaria de assumir poder semelhante, na tentativa de minorar a sua baixa estima, tomando atitude, cobrando seus direitos, assumindo a sua cidadania e como consequência exigir mais respeito daqueles que se dizem seus governantes.
Compreende-se que nada colabora para que esta nação finalmente desperte para o seu destino inevitável de grande nação.
Se analisarmos as diversões básicas que compõem o mosaico formador de opinião da população, vamos notar que o sentimento de altivez e de orgulho são reiteradamente usurpados.
Nas novelas, o que se vê, é uma eterna procrastinação da punição do vilão da história. E quando, finalmente, isto se dá, via de regra, não satisfaz toda a animosidade gerada através de meses de sofrimento e incentivos a impunidade.
Sem muita explicação plausível, transformam os "maus" em loucos e portanto imputáveis, ou matam-nos simplesmente em acidentes cretinos e inverossímeis.
Frustam o que poderia ser uma verdadeira terapia macro.
No futebol, somos sempre, os "bonzinhos" da história. Aceitamos resignados os desmandos, violência e catimba de nossos adversários. Não podemos, em hipótese alguma, revidar, mostrando afinal que antes de jogadores, são homens e em certo sentido estão ali representando o brasileiro, portanto com a obrigação de agir sem covardia. Assim fazendo, com certeza, estariam contribuindo com o aumento do sentimento de bravura que influenciaria a retomada do nosso orgulho.
O que se vê são narradores televisivos medíocres, incentivando os jogadores a se portarem como o eterno agredido resignado, oferecendo sempre o mesmo chavão batido e repetitivo, aquele que não devemos entrar no jogo do adversário.
Não que tenham de enaltecer a troca de agressões, mas que tenham a sensibilidade de entender rompantes de fibra e determinação ocasionais a contrariar a sua própria tendência à pacificação.
"O pacificador é aquele que alimenta o crocodilo na esperança de ser comido por último".
Voltando para o lado específico do profissional assalariado, ai também existem histórias (causos) os mais diversos a corroborar a existência da injustiça e da traição também, na vida corporativa.
Passei uma grande parte da minha vida profissional trabalhando, sob contrato, em vários Estados do Brasil.
Em uma dessas escalas encontrei um ser único e especial. Era meu vizinho.
Generoso, atencioso, me cercou quando da minha chegada, de tudo o que me faltava, dentro de uma circunstância bastante confusa que acarretam as mudanças.
Tornamo-nos amigos e havia grande familiaridade entre nós.
Para minha surpresa, todos se espantavam ao saber dessa amizade, havendo quem me sugerisse o afastamento desse convívio.
Esse alerta partia principalmente de meus empregadores. Com o passar do tempo, soube realmente, que este senhor, digamos, não pautava com a observância ortodoxa dos parâmetros legais.
Tinha sua própria linha de atuação e todos o temiam por não "levar desaforo para casa"- para dizer o mínimo.
Pois bem e para resumir. Na época do meu distrato houve algumas discrepâncias interpretativas que afinal iriam me prejudicar consideravelmente.
Mas, nesse instante, alguém lembrou que eu era vizinho, sabe de quem? Ele mesmo.
Pronto, os problemas cessaram e tudo foi resolvido satisfatoriamente.
Isto é somente uma ilustração daquilo que podemos chamar justiça indireta, obtida nas entrelinhas, apesar das circunstâncias desfavoráveis.
Mas não é o que acontece certamente, quando se analisa o grande espectro que compõe as relações capital/trabalho.
"Malvadezas" é o que não faltam. O que falta é uma grande quantidade de vizinhos que assumam atitudes heterodóxicas.
De qualquer forma e de maneira que satisfaça somente o nosso amor próprio, gostaríamos de ter o poder de converter em ação punitória algumas decepções e ofensas que o dia a dia nos apresenta. Seria um gesto egoísta e talvez até perverso, mas nos daria uma sensação orgástica de poder.

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